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Presidente da Cebraf, Tomáz de Aquino sugere criatividade e transparência das organizações da sociedade civil para superar déficit
Matar um leão por dia parece ser mesmo a sina das organizações da sociedade civil (OSCs) no Brasil. E em 2023 a luta pela sobrevivência foi ainda mais difícil do que em anos anteriores. Pelo menos é o que sugere o Monitor de Doações, ferramenta da Associação Brasileira de Captadores de Recursos (ABCR) e do Grupo de Institutos e Fundações (Gife).
O monitor registra todas as doações com valores acima de R$ 3 mil, que tenham sido informadas publicamente por pessoas físicas e jurídicas. Em 2022, essa modalidade de doação às OSCs alcançou a cifra de R$ 1,4 bilhão. Porém, no ano passado, o montante sofreu uma forte queda de 67%, parando nos R$ 475 milhões.
O advogado Tomáz de Aquino Rezende avalia que os números foram um golpe duro para as entidades. Especializado em assistência jurídica voltada para entidades sem fins lucrativos e presidente da Confederação Brasileira de Fundações (Cebraf), ele conhece de perto a realidade do Terceiro Setor.
“O monitor de doações não é um parâmetro totalmente certeiro a respeito das arrecadações, mas também não pode ser desprezado. Ele sinaliza que, na melhor das hipóteses, os grandes doadores não se sentiram inclinados a declarar apoio. E isso é muito ruim, porque divulgar suas doações é um estímulo para que outras pessoas tomem a mesma atitude”, lamenta.
O levantamento traz mais um número negativo: o número de doadores. Entre 2022 e o ano passado, a quantidade caiu de 397 para 158 pessoas (entre físicas e jurídicas) – um desmorono de 60%. “Nós poderíamos até acreditar que essa diferença foi de doadores que não quiseram revelar suas contribuições, mas seria tapar o sol com a peneira. A arrecadação das OSCs diminuiu, e isso significou que elas tiveram de encontrar outras formas de sobreviver”, revela Tomáz de Aquino.
Criatividade e transparência
O presidente da Cebraf explica que a situação é menos caótica para quem tem contratos de parceria com o poder público, e, claro, para quem ainda recebe doações mais volumosas. Já as OSCs que não desfrutam de nenhuma das duas situações, ele sugere duas frentes: usar da criatividade e da transparência.
“A criatividade, neste caso, seria buscar caminhos alternativos para alcançar os recursos por meio de doações. Engajar-se com a sociedade ou mesmo com a comunidade ao seu redor e criar campanhas com a participação popular pode ser uma forma eficaz”, recomenda.
“Mas a criatividade tende a ter êxito num médio-longo prazo se a organização agir com transparência, mostrar os números, seu progresso financeiro e a maneira como utilizou sua arrecadação. O negócio é trabalhar para que as pessoas confiem e deem crédito para aquilo que a entidade faz. Se conseguir alcançar isso, as doações tendem a aumentar”, orienta.