No dia 10 de março de 2025, moradores da rua Aderbal, no bairro Sarandi, em Porto Alegre/RS, realizarão uma vigília contra a remoção de 57 famílias do local, ordenada pela prefeitura de Porto Alegre. A medida tem o propósito de permitir o conserto do Dique Arroio Sarandi, que rompeu durante as trágicas enchentes que assolaram o estado em maio de 2024. A ação, organizado pelo Movimento dos Atingidos por Barragens(MAB), associação do bairro e pela Comissão Fiscaliza Sarandi, também busca denunciar as precárias condições oferecidas aos atingidos e garantir habitações dignas, já que o Departamento Municipal de Habitação(DEMHAB), através do programa Estadia Solidária, oferece um Auxílio-aluguel de R$1000, valor considerado insuficiente pelas famílias.
Os moradores do Sarandi tem criticado a forma com que a prefeitura tem lidado com a situação, chamando atenção para a falta de diálogo e repasse adequado. A moradora Vanise Alano destaca: “eles apresentaram para nós o aluguel social para a gente sair das nossas casas por causa da obra que tem que continuar ali atrás. Só que é o seguinte, eles querem que a gente vá para uma casa de aluguel e a gente não tem certeza nenhuma se realmente nós vamos receber esse dinheiro. Outra coisa que está acontecendo é que eles estão colocando mil e um empecilhos. Eles que escolhem apartamentos ou casas distantes, desestruturando nossas vidas’’.
Já Carmen de Goes reitera que não se recusa a sair, mas exige que as soluções habitacionais sejam oferecidas de forma eficiente, íntegra e clara, respeitando o direito de escolha individual. ‘’Nós não queremos ir para o aluguel ou estadia solidária, queremos sair daqui direto para a nossa casa. Eles só fornecem apartamentos, e não queremos. A gente não está se recusando a sair, mas queremos ter o direito de escolha! Então, quero sair dessa casa para ir para uma outra casa. Vamos fazer aquela troca justa: uma chave pela outra chave’’.
Mariane Friedrich, que mora no bairro há mais de 20 anos, também se mostra preocupada com a situação, já que encontra dificuldades para se encaixar no programa Compra Assistida, oferecido pela Caixa Econômica Federal. ‘’Existem algumas regras dentro da Caixa, que é por onde a gente vai ganhar a Compra Assistida, que é no valor de R$ 200 mil. Só que são regras minuciosas, sem flexibilização nenhuma e a gente não está conseguindo achar casa dentro do Sarandi nesse valor, que é o nosso espaço, que a gente vive aqui, eu moro no Sarandi há mais de 20 anos.
Eu tenho uma filha que vai começar a estudar dia 10 na escola, que é próxima daqui. E também tem um problema que a minha sogra, que mora na parte de baixo de nossa casa, sofre de diabetes e depende de nossa assistência. Só que ela ainda não se encontra na lista da Caixa’’.
A vigília está marcada para iniciar às 8h da manhã e as entidades e os moradores encaminharam uma proposta de denúncia ao Ministério Público. Segundo os organizadores, ‘’a vigília representa uma espécie de proteção para as 57 famílias’’ e ‘’uma maneira de fiscalizar o atendimento oferecido pelo DEMHAB’’. O MAB reitera que seguirá lutando para garantir um reassentamento justo e digno às famílias despejadas, destacando que fará o possível para garantir um processo transparente e seguro, a fim de que o direito à moradia seja uma realidade nesse contexto.