Primeira testemunha a prestar depoimento no julgamento do Caso Mariana em Londres, o ex-diretor da BHP, Christopher Campbell, admitiu que a exploração da barragem de Fundão era um negócio bastante lucrativo e que havia enorme alinhamento entre as mineradoras BHP e Vale, controladoras da Samarco. Ex-Vice-Presidente da mineradora anglo-australiana e ex-diretor do conselho da Samarco, Campbell será novamente interrogado nesta terça-feira. As próximas três semanas de julgamento serão dedicadas a interrogatórios de executivos da BHP.
Questionado por Alain Choo Choy, advogado do Pogust Goodhead, se a Samarco era um “negócio que gerava muito dinheiro”, Campbell disse ao tribunal: “Ela produzia um bom fluxo de caixa”. Na semana passada, os representantes do escritório que representa as vítimas na corte inglesa afirmaram ao tribunal que a BHP aprovou acordos para que a Vale despejasse dez vezes mais rejeitos de mineração na barragem de Mariana do que o estabelecido anteriormente com a Samarco. Isso se deveu ao fato de ser “mutuamente conveniente, quando se olha para o quadro geral de como a BHP desejava se beneficiar do crescimento da Samarco”. Foi dito que isso foi permitido mesmo sendo “inseguro e antieconômico” para a Samarco.
As mineradoras, portanto, dispunham de dinheiro em caixa para garantir a segurança do empreendimento, mas não o fizeram. Campbell, apesar do desastre, descreveu para a Corte a equipe de gestão como “competente”, com “bons engenheiros de mineração” e disse: “Todas as indicações que vi foram de uma equipe de liderança que entendia de segurança.”
Campbell fazia parte do Conselho de Administração da Samarco, uma joint venture 50/50 entre BHP e a brasileira Vale. Tanto a BHP quanto a Vale indicaram diretores para o conselho da Samarco como acionistas majoritários.
Campbell também disse ao tribunal nesta segunda-feira que havia “bom alinhamento” nos interesses das três empresas (BHP, Vale e Samarco) e que só se lembrava de um caso em que houve desacordo em relação a uma decisão administrativa. “Não me lembro de ter visto divergência de interesses entre os diretores da Vale e da BHP ou, de fato, entre os acionistas da BHP e da Vale”, afirmou. “Na época em que eu estava no conselho, não vi nenhum desalinhamento além da questão potencial do P4P. Portanto, não observei uma posição em que houvesse uma decisão tomada pelos diretores no melhor interesse da Samarco que pudesse ter sido diferente do que eles preferiam como acionistas. Não vi nenhum desalinhamento [de interesses]”.
P4P refere-se ao projeto da Samarco de iniciar a produção de uma quarta usina de pelotização, que está ligada à expansão da barragem antes de seu colapso – uma vez que a unidade criou uma necessidade de maior capacidade de armazenamento.
Christopher Campbell deixou a equipe de Minério de Ferro em janeiro de 2012 para se tornar Diretor de Assuntos Corporativos em Melbourne, antes de deixar a BHP um ano depois. Ele disse ao tribunal que ainda tem ações da BHP.
Cerca de 620 mil vítimas do pior desastre ambiental do Brasil estão atualmente processando a gigante da mineração BHP pelo rompimento da barragem, ocorrido no dia 5 de novembro de 2015. O desastre liberou 44 milhões de metros cúbicos de resíduos tóxicos e lama no Rio Doce, matando 19 pessoas e causando um aborto em uma jovem grávida. Os rejeitos percorreram 675 quilômetros até desaguar no Oceano Atlântico. O julgamento continua nesta terça-feira.