Crédito imagem: Lara Dantas.
Após concorrida e elogiada temporada em São Paulo, a exposição “Ancestral: Afro-Américas” desembarca em Belo Horizonte, a partir de 08 de março, no Centro Cultural Banco do Brasil. Reunindo mais de 130 obras de artistas afrodescendentes do Brasil e dos Estados Unidos, a mostra, que traz a assinatura de Marcello Dantas na direção artística, conta com a curadoria de Ana Beatriz Almeida e Renato Araújo da Silva. Para a temporada no CCBB BH, a exposição traz como novidade a seção “Arte Africana Tradicional”, um núcleo que amplia ainda mais o conceito da mostra.
“A palavra ‘ancestral’ é comum tanto em inglês quanto em português. É essa origem compartilhada que buscamos evidenciar na arte contemporânea, algo que ultrapasse as barreiras geográficas, linguísticas e culturais. A exposição ‘Ancestral’ demonstra que, mesmo diante de tanta dor, sofrimento e com todo distanciamento de séculos de diáspora africana, sua arte persiste na capacidade de manter uma chama acesa ao longo do tempo”, destaca o diretor artístico da mostra, Marcello Dantas.
“Nós nos deixamos guiar pelos grupos e comunidades da diáspora africana que reimaginaram o conceito de servidão nessas nações coloniais para as quais foram trazidas, contribuindo de maneira significativa para a construção da identidade nacional desses lugares. A partir da ideia de seres humanos que reinventam sua existência em um ambiente hostil, selecionamos artistas que evocam essa invenção, essa transformação, e esse processo de ‘tornar-se’ como uma poderosa ferramenta, poética e estética”, completa a curadora Ana Beatriz Almeida.
A mostra, em sua origem, surgiu com a curadoria conjunta de Ana Beatriz Almeida e de Lauren Haynes. Para Haynes, a oportunidade de trabalhar com Ana Beatriz “para apresentar o trabalho de artistas afro-americanos ao lado do trabalho de artistas afro-brasileiros foi uma ótima chance de explorar conexões e práticas distintas de artistas negros atuando em dois lugares muito diferentes. Espero que os visitantes saiam da exposição tendo aprendido sobre novos artistas e novas formas de fazer arte”.
A exposição reúne artistas de grande relevância no cenário internacional. Dentre eles, os trabalhos inéditos das brasileiras Gabriella Marinho e Gê Viana e da norte-americana Simone Leigh, que traz uma obra nova de sua coleção pessoal. Natural de Chicago, a artista, reconhecida internacionalmente, é a primeira mulher afro-americana a representar os Estados Unidos na Bienal de Veneza. O também norte-americano Nari Ward traz para a mostra um trabalho criado em solo brasileiro exclusivamente para a ocasião. O artista incorpora em suas obras objetos do cotidiano, enriquecendo assim o intercâmbio artístico entre as nações.
Também fazem parte da mostra “Ancestral” nomes como Abdias Nascimento, ícone do ativismo cultural no Brasil, amplamente reconhecido por suas contribuições à valorização da cultura afro-brasileira e por ter sido agraciado com o Prêmio Zumbi dos Palmares. Entre os artistas norte-americanos, Kara Walker se destaca com sua arte provocativa, que examina questões históricas e sociais e lhe rendeu o prestigiado Prêmio MacArthur. Julie Mehretu é outra presença significativa, reconhecida por suas complexas pinturas que estabelecem um diálogo com a geopolítica atual, acumulando uma série de prêmios ao longo de sua carreira. Complementando esse panorama, a brasileira Rosana Paulino, premiada com o Prêmio PIPA, traz um olhar crítico sobre raça e identidade, ressaltando a diversidade e a profundidade das vozes representadas na mostra.
Ainda se somam a eles nomes como o da jovem artista Mayara Ferrão, que utiliza a inteligência artificial para repensar cenas de afeto entre pessoas negras e indígenas não contadas pela “história tradicional”; e o sergipano Bispo do Rosário, com seus mantos bordados e objetos que transcenderam o tempo e subverteram o conceito de beleza e loucura. Reforçando o diálogo poderoso sobre identidade, cultura e história, e refletindo a complexidade da experiência humana, vemos a inclusão das obras de Kerry James Marshall, Carrie Mae Weems e Betye Saar.
OS TRÊS EIXOS/PILARES SOBRE OS QUAIS FOI CONSTRUÍDA A EXPOSIÇÃO “ANCESTRAL: AFRO-AMÉRICAS”
Com expografia orgânica, a mostra, que ficará em cartaz de 08 de março a 12 de maio, oferece reflexões sobre a afirmação do corpo, a dimensão onírica dos sonhos e a reivindicação de espaço. Através desses três eixos – corpo, sonho e espaço – “Ancestral: Afro-Américas” promove um encontro que valoriza o conceito de identidade afro-americana no Brasil e nos EUA e também a arte decolonial. A exposição não apenas homenageia os artistas que desafiaram as brutalidades e o apagamento do colonialismo, mas também busca fomentar um diálogo aberto sobre o impacto e a relevância das raízes africanas ancestrais na sua formação e em seus contextos sociais.
Corpo: As obras deste núcleo exploram os limites da representação. O ato de retratar uma pessoa negra em uma obra de arte – seja representando um outro ou a si mesmo – frequentemente constitui um poderoso ato de resistência. Este enfoque não só desafia as narrativas dominantes, como também desempenha um papel fundamental na reformulação do cânone da arte. Esta seção conta com nomes como Benny Andrews, cujas narrativas vibrantes destacam histórias pessoais e coletivas; Carlos Martiel, que aborda temas como imigração e identidade; e Dalton Paula, que trabalha com a memória cultural e as complexidades da representação. Reunidas, as obras deste núcleo trazem à tona um diálogo contínuo na arte contemporânea.
Espaço: As obras deste núcleo examinam propostas de construção de mundo e criação de lugares, evidenciadas pelas múltiplas habilidades dos artistas apresentados nesta exposição. Ao tratar de temas como imigração, história e comunidade, esses artistas desafiam percepções convencionais de espaço e pertencimento. Esta seção cujos trabalhos vibrantes entrelaçam elementos naturais e urbanos, conta com artistas como Leonardo Drew, conhecido por suas instalações escultóricas que parecem explodir das paredes; Sonia Gomes, que usa materiais reaproveitados para explorar as relações entre memória e lugar; e Caroline Kent, cujas composições abstratas refletem sobre a fluidez da identidade. Juntas, as obras não apenas expandem nossa compreensão de “espaço”, como também convidam à contemplação sobre as conexões profundas entre os mundos que habitamos e as histórias que eles contêm.
Sonho: As obras deste núcleo expandem os limites da abstração, promovendo a contemplação e provocando reflexão. Por meio do uso inovador de cor, forma e textura, os artistas exploram temas complexos que desafiam as noções tradicionais de representação. Neste segmento estão presentes obras de Betye Saar, que combina elementos de colagem e assemblage para abordar identidade e herança; Simone Leigh, cujo trabalho é uma contínua investigação da subjetividade negra identificada como feminina; Murry Depillars, conhecido por suas composições vibrantes que evocam tanto movimento quanto emoção; Kevin Beasley, que habilmente integra materiais capazes de refletir narrativas pessoais e culturais; e Sam Gilliam, cujas telas drapeadas redefinem os limites da pintura.
A EXPOSIÇÃO EM BH EM SUA NOVA VERSÃO: A SEÇÃO DE ARTE AFRICANA TRADICIONAL
Para a temporada no CCBB BH, “Ancestral: Afro-Américas” receberá mais um núcleo, a seção Arte Africana Tradicional, sob a curadoria de Renato Araújo da Silva, que ampliará ainda mais o conceito da mostra como um todo.
A exposição celebra as conexões entre a herança africana e a arte contemporânea no Brasil e nas Américas, destacando a ancestralidade como uma grande fonte de criatividade artística. A seção de arte africana homenageia o continente de origem da humanidade, evidenciando a força das tradições e inovações culturais transmitidas ao longo do tempo.
“A seção de arte africana tradicional na exposição Ancestral não é apenas uma homenagem ao passado, mas também um convite à reflexão sobre a resiliência e a criatividade que marcam as heranças da África. Esses objetos, que outrora serviram a funções espirituais, sociais ou utilitárias, transcendem o tempo ao conectar o público contemporâneo às raízes profundas da humanidade. A interação entre formas e significados que atravessaram o Atlântico revela uma continuidade cultural que persiste mesmo frente às adversidades”, pontua o curador Renato Araújo da Silva.
EVENTOS NA ABERTURA DA MOSTRA “ANCESTRAL: AFRO-AMÉRICAS”
Dois importantes eventos programados para o dia da abertura, 08 de março, complementam e ampliam o conceito e a proposta da exposição.
# Às 11h e 17h30 – Pátio do CCBB BH: Virgínia Rodrigues e Sérgio Pererê unem as suas potentes e inclassificáveis vozes para uma apresentação/performance. Rito de abertura.
# Às 18h30 – Teatro II do CCBB BH: Os curadores Ana Beatriz Almeida e Renato Araújo da Silva, e o diretor artístico Marcello Dantas recebem o público para uma palestra/conversa sobre a exposição.
CIRCUITO LIBERDADE
O CCBB BH é integrante do Circuito Liberdade, complexo cultural sob gestão da Secretaria de Estado de Cultura e Turismo (Secult), que reúne diversos espaços com as mais variadas formas de manifestação de arte e cultura em transversalidade com o turismo. Trabalhando em rede, as atividades dos equipamentos parceiros ao Circuito buscam desenvolvimento humano, cultural, turístico, social e econômico, com foco na economia criativa como mecanismo de geração de emprego e renda, além da democratização e ampliação do acesso da população às atividades propostas.
SERVIÇO – MOSTRA “Ancestral: Afro-Américas”
Direção Artística: Marcello Dantas
Curadoria: Ana Beatriz Almeida e Renato Araújo da Silva
Patrocínio: BB Asset e Google
Apoio: Centro Cultural Banco do Brasil, Embaixada dos Estados Unidos e Bank of America
LOCAL: Centro Cultural Banco do Brasil (Praça da Liberdade, 450 – Tel: 31 3431-9400)
PERÍODO: De 08 de março a 12 de maio de 2025
HORÁRIO DE VISITAÇÃO: De quarta a segunda, das 10h às 22h
RETIRADA DE INGRESSOS: pelo site ccbb.com.br/bh e na bilheteria física do CCBB BH
ENTRADA GRATUITA
CLASSIFICAÇÃO INDICATIVA: Livre