Há exatos 23 anos, os ataques de 11 de setembro de 2001 mudaram o curso da história mundial. O trágico evento, que vitimou quase 3 mil pessoas em Nova York, Washington D.C. e Pensilvânia, teve consequências profundas, não apenas para os Estados Unidos, mas para o cenário global. A destruição das Torres Gêmeas e o ataque ao Pentágono representaram um marco no combate ao terrorismo internacional e provocaram mudanças econômicas e sociais que ainda reverberam nos dias de hoje.
O impacto econômico imediato foi sentido de forma significativa. A economia americana, já fragilizada por uma desaceleração no início de 2001, viu os mercados financeiros entrarem em colapso. A Bolsa de Valores de Nova York, por exemplo, ficou fechada por quatro dias, e quando reabriu, as ações sofreram uma queda drástica. Desde então, os custos associados à guerra contra o terrorismo, como as invasões do Afeganistão e do Iraque, somam trilhões de dólares. Esses gastos influenciaram o aumento da dívida pública americana, afetando, inclusive, a política econômica mundial.
No cenário geopolítico, os atentados de 11 de setembro inauguraram uma era de intensificação das medidas de segurança e vigilância em diversos países. As políticas antiterrorismo, muitas vezes criticadas por violarem direitos humanos, transformaram as relações diplomáticas e a forma como governos lidam com questões de segurança interna. Os aeroportos ao redor do mundo implementaram controles mais rigorosos, que impactam diretamente o cotidiano das viagens internacionais até hoje.
Um outro ponto relevante que configura-se como um produto dessa tragédia tem a ver com medidas tomadas pelos Estados Unidos na contramão do que propunham as diretrizes diplomáticas da ONU, como explica a doutora em Relações Internacionais e docente do Centro Universitário UniBH, Andrea Resende:
“A partir do caos que os atentados promovidos pela Al-Qaeda causaram no país, os Estados Unidos iniciaram uma campanha global contra o terrorismo, com suporte dos países membros da OTAN. Tal campanha focou em combater o financiamento e suporte de grupos terroristas que, supostamente, aconteciam sob os governos do Afeganistão, sob regime do Talibã, e no Iraque, que era governado por Saddam Hussein. E isso significou promover a invasão destes países”, explica.
“O problema é que, na ótica dos princípios e normas internacionais da Organização das Nações Unidas, nenhum desses Estados poderia conduzir uma intervenção militar sem infringir o ordenamento internacional do qual concordaram em seguir, a partir do momento em que se tornaram membros da ONU. A princípio, esses países deveriam buscar recursos diplomáticos e pacíficos antes de assumir o uso das forças de combate, o que não ocorreu”, destaca.
Socialmente, o 11 de setembro também desencadeou mudanças culturais importantes. O crescimento da islamofobia, especialmente nos Estados Unidos e na Europa, é uma triste consequência dos ataques. Muitos cidadãos muçulmanos passaram a ser vítimas de discriminação e violência, enquanto grupos de extrema direita cresceram alimentando narrativas de ódio. Esse clima de polarização e desconfiança teve um efeito duradouro nas sociedades ocidentais, tornando o diálogo intercultural mais difícil e aumentando tensões sociais.
“As consequências dos atos da Al-Qaeda ainda são expressas no surgimento de outras organizações terroristas como o Estado Islâmico e sistemáticas violações de Direitos Humanos em várias partes do mundo, como na prisão estadunidense de Guantánamo, em Cuba”, aponta a docente.
A guerra ao terror também trouxe um legado psicológico devastador. A ansiedade e o medo em relação a possíveis novos ataques geraram um aumento significativo de distúrbios mentais, como transtornos de estresse pós-traumático (TEPT), tanto entre civis quanto entre militares. Além disso, o trauma das famílias das vítimas e dos sobreviventes continua sendo um fardo emocional que persiste mais de duas décadas depois da tragédia.
Por fim, o impacto ambiental decorrente da destruição das Torres Gêmeas ainda é uma preocupação para muitos. O pó tóxico liberado pelos escombros continha produtos químicos perigosos, como amianto, que se espalharam por grandes áreas de Nova York. Estima-se que centenas de milhares de pessoas foram expostas a esse material, o que desencadeou uma série de doenças respiratórias e outros problemas de saúde a longo prazo, com efeitos que ainda se manifestam.
O custo humano para os socorristas
Entre as vítimas do 11 de setembro, estão também aqueles que atuaram na linha de frente do resgate e limpeza nos dias seguintes ao ataque. Mais de 11 mil socorristas desenvolveram doenças graves, como cânceres e problemas respiratórios, devido à exposição aos tóxicos presentes nos escombros. Apesar dos esforços para mitigar os danos, a realidade é que as consequências continuam a repercutir. Desde o ataque, mais de 300 pessoas que participaram das operações de resgate e limpeza morreram em decorrência de complicações de saúde originadas naquele fatídico dia.
As doenças relacionadas ao 11 de setembro continuam a crescer, com novos casos sendo registrados anualmente. Em 2021, o Programa de Saúde do World Trade Center informou que mais de 60 tipos diferentes de doenças foram diagnosticados entre socorristas e sobreviventes, o que demonstra a gravidade e a amplitude dos efeitos a longo prazo da exposição aos poluentes gerados pelo colapso das torres. A luta dessas pessoas por reconhecimento e compensação financeira continua sendo um capítulo doloroso na história das consequências do ataque.
11 de setembro: 23 anos depois, os impactos que ainda reverberam no mundo
Doutora em Relações Internacionais e docente do Cento Universitário UniBH, Andrea Resende avalia os resultados advindos de uma das maiores tragédia do mundo