“O transplante me deu uma nova vida. Desde um café com a minha avó até um passeio com a minha mãe, tudo para mim é incrível e vale cada segundo”. O sentimento de gratidão presente em cada palavra de Gustavo Henrique Alcântara, de 31 anos, que ganhou um novo fígado em janeiro de 2022, ilustra como o ato solidário de doar órgãos pode transformar a realidade dos milhares de pacientes que esperam na fila no país. O tema ganha força em mais uma campanha do Setembro Verde e a Santa Casa BH, maior hospital transplantador de Minas Gerais e um dos maiores do Brasil, encabeça uma campanha de conscientização sobre o assunto. A iniciativa foi lançada na última sexta-feira, 27, Dia Nacional da Doação de Órgãos.
Com o mote “o show pode continuar…”, a instituição associa a vida de cada pessoa a um espetáculo único que, muitas vezes, parece que vai acabar antes do tempo previsto. Foi o que aconteceu com o Gustavo, que descobriu, em 2019, que tinha colangite esclerosante primária, doença rara que consiste na inflamação do fígado, causando cicatrização progressiva e estreitamento dos dutos, podendo acarretar cirrose, insuficiência hepática e até câncer.
O diagnóstico foi feito na Santa Casa BH e Gustavo tratou a doença com medicamentos até que, no final de 2021, entrou para a fila de transplantes. Pela gravidade do quadro, subiu de posição na lista e, após 37 dias, o tão esperado órgão chegou.
“A minha vida antes do transplante era muito difícil. Fiquei anos doente e passei por várias internações, usei dreno biliar e não conseguia estudar, trabalhar ou realizar outras atividades diárias. Depois do transplante, foi como se eu nunca tivesse tido a doença e um mundo de novas possibilidades se abriu. Pude concluir a minha graduação em arquitetura e voltei a fazer tudo que queria, como ir à academia, sair com meus amigos, entre outras coisas”, relata.
Fila de transplantes ainda é alta
Graças à solidariedade de uma família que perdeu seu ente querido, o “show” do Gustavo não foi interrompido, mas a angústia da espera ainda é realidade para as mais de 44,6 mil pessoas que aguardam na fila de transplante de órgãos no Brasil, segundo o Ministério da Saúde. Só em Minas Gerais, o número ultrapassa 3,8 mil.
Em contrapartida, o estado registrou um aumento no número de transplantes realizados entre janeiro e junho deste ano, subindo de 1.025 para 1.124, em comparação com o mesmo período do ano passado. Referência na área, a Santa Casa BH realizou, no ano de 2023, 337 procedimentos, o melhor resultado dos últimos anos.
Apesar dos avanços, o médico intensivista e presidente da Comissão Intra-Hospitalar de Doação de Órgãos e Tecidos para Transplantes (CIHDOTT) da Santa Casa BH, Dr. Lucas Timm, reforça que o tema precisa ser discutido continuamente, uma vez que ainda é rodeado de inúmeros tabus.
“Muitas pessoas ainda têm receios, acreditando, por exemplo, que a morte encefálica do possível doador pode ser diagnosticada de maneira incorreta ou que não terão a oportunidade de se despedir do ente querido. É um tema sensível e cercado de mitos que só serão desconstruídos com informações confiáveis e de qualidade, esclarecendo que todo o procedimento é realizado de forma segura e respeitosa, tanto em relação ao doador quanto aos seus familiares”, diz Timm.
Campanha de conscientização
O médico lembra que é justamente para conscientizar, informar e esclarecer dúvidas da sociedade que a Santa Casa BH participa do Setembro Verde. Para isso, na última sexta-feira, a instituição deu início a uma série de ações que se desdobrarão ao longo dos próximos meses.
“Fizemos intervenções internas, com nossos funcionários, e nas ruas do entorno da Santa Casa BH, entregando folders educativos, bottons e pulseiras para a população, tudo seguindo o mote da campanha que é ‘o show pode continuar…’. Também colocamos faixas nos sinais. Outras ações, como blitz em bares, aulas coletivas de funcional e fitdance também serão realizadas nos próximos meses”, revela Timm.
Um dos destaques é o vídeo produzido pelo setor de Comunicação e Marketing da Santa Casa BH especialmente para a campanha e estrelado por Gustavo Henrique Alcântara. Na mensagem, ele ressalta a importância de informar à família sobre o desejo de ser doador e que esse simples gesto pode permitir que o espetáculo da vida de várias pessoas continue. Clique aqui e assista ao vídeo.
Como ser um doador?
Para se tornar um doador, o primeiro e mais importante passo é deixar claro esse desejo para a família. No Brasil, a doação ocorre somente com a autorização do parente responsável, após a constatação da morte encefálica. No entanto, atualmente, também é possível manifestar o interesse por meio do sistema de Autorização Eletrônica de Doação de Órgãos (Aedo), lançado este ano, em uma parceria do Ministério da Saúde, do Conselho Nacional de Justiça e do Conselho Notarial do Brasil. Basta acessar o link www.aedo.org.br.