No dia 3 de fevereiro, sexta-feira, estreia “Macbeth 22” – novo trabalho de Mariana Lima Muniz marca a volta da atriz à cena mineira. Com abordagem contemporânea, a dramaturgia de David Maurity, em parceria com a atriz, aproxima a Inglaterra do século XVI do atual contexto político brasileiro, ao narrar a saga de ascensão e queda do ambicioso general Macbeth. Em palco minimalista, Mariana e o músico Maurilio Rocha, acompanhados de samplers, microfones e outras parafernálias sonoras, discutem relações de gênero e poder. A direção de encenação é de Thálita Motta e, a direção de atuação, de Ana Régis. A temporada segue até 12 de fevereiro, sextas e sábados, às 20h, e domingos, às 19h, na Funarte MG. Duração: 60 minutos. Classificação: 10 anos. Pela campanha de popularização do teatro & Dança. Os ingressos custam R$20 no posto de venda do Sinparc (Shopping cidade e Pátio Savassi), no site vaaoteatromg.com.br e pelo aplicativo vá ao teatro MG ou R$42 na bilheteria do teatro. Este espetáculo tem apoio do curso de teatro da UFMG e produção da Arte em Conexão.
“Aqui, neste palco, hoje, vocês verão um homem. Ou me verão falar como fala um homem. Falarei como se fala um homem do século XVI. Talvez um homem do século XXI com ideias comuns aos homens do século XVI. Dizem que a história (…) é cíclica, que as coisas se repetem. Então, entendam, começar pelas palavras talvez não seja uma coisa vã”. É com essa fala que Mariana Muniz abre seu novo trabalho, “Macbeth 22”. A última aparição da atriz em cena foi em 2017, no espetáculo “Tio Vânia”, dentro da turnê de comemoração dos 35 anos do Grupo Galpão. Desde então, Mariana vinha se dedicando sobretudo a dirigir e lecionar. Durante o isolamento social, “li muito Shakespeare e trabalhei os textos com meus estudantes da UFMG no Ensino Remoto Emergencial. De todas as obras, a que mais parecia falar com a realidade política do Brasil era Macbeth”, afirma.
Na fábula trágica, escrita entre 1603 e 1607, Macbeth volta para casa vitorioso de uma batalha, e se depara com a profecia de três bruxas que lhe contam que se tornará barão e, em seguida, rei. Tomado pela ganância, o general decide matar o soberano escocês com a ajuda de sua companheira Lady Macbeth. Mas, o peso da coroa traz insônias e crises de consciência ao novo rei, que, aos poucos, enlouquece diante do medo de perder o poder. A história se passa na Escócia do século XI. Para Mariana Muniz, poderia muito bem acontecer no Brasil de 2022, no ano das eleições presidenciais. “A sede de poder pelo poder: uma vez rei, Macbeth só se preocupa com sua manutenção no trono, enquanto seu povo é dizimado pela fome, a doença e a violência. Está escrito assim em Shakespeare. E essa foi a realidade que vivemos nos últimos quatro anos no Brasil”, constata.
É logo após os atos do governo em 7 de setembro de 2021 que a dramaturgia de “Macbeth 22” começa a ser gestada. “Quando os atos ‘comemorativos’ tiveram um teor de ameaça democrática, senti uma necessidade imperativa de responder àquilo de alguma forma. Como Macbeth, fiquei completamente insone e passei a escrever. Convidei o David Maurity para se juntar a mim”, conta. Admiradores da obra do bardo, desde os tempos em que eram estudantes da Faculdade de Letras da UFMG, Mariana e David traduziram a peça diretamente do inglês: “trouxemos vários textos originais para a cena”, diz M. Muniz.
As falas de Macbeth e Lady Macbeth são interpretadas por Mariana Lima Muniz e os demais personagens – Macduff, as bruxas e Banquo – surgem nas vozes gravadas de Lydia Del’Picchia, Rejane Faria e Fernanda Vianna. Segundo Mariana, não por acaso, o espetáculo é formado por uma equipe essencialmente feminina. “No teatro elisabetano, as mulheres não podiam trabalhar como atrizes e a maioria dos papéis nas obras do bardo são masculinos. Um universo, em muitos momentos, misógino, racista, antisemita etc. Claro que temos que entender a obra em seu contexto original. Por isso, optei por montar uma versão com personagens feitos somente por mulheres. Porque os desejos, paixões, dúvidas, crueldades e nobrezas presentes neles não são prerrogativa masculina”, afirma.
Nos ensaios, a figura de Lady Macbeth, segundo Mariana Lima Muniz, também contribuiu para compreender as relações entre gênero, poder e política em Shakespeare. A atriz destaca que, na obra, a esposa do general pede que os espíritos malignos a libertem de seu gênero. “Não acredito que Lady Macbeth tenha que se libertar de seu gênero para ser cruel, assim como não creio que ela é responsável pelo assassinato do rei e que Macbeth aja apenas como uma marionete em suas mãos. Ambos são feitos à medida um do outro, cara e coroa”, questiona.
Personalidade histórica da renascença inglesa, Rainha Elisabete I também foi incorporada ao texto de “Macbeth 22”, e ganha interpretação na voz de Inês Peixoto. “Governante máxima do reino da Inglaterra e Escócia, e, por sua vez, chamada de rainha virgem, Elisabete é personagem fundamental para entender o teatro de Shakespeare e para discutir o papel da mulher na política e no poder”, ressalta M. Muniz.
Assim como no teatro elisabetano, também em “Macbeth 22” a palavra e a relação com o público aparecem como pilares da encenação. “Na Inglaterra do século do século XVI, os espetáculos eram apresentados de dia, não tinham cenário e, logicamente, não havia iluminação elétrica. Os atores criavam tudo por meio da palavra”, conta. Logo nos minutos iniciais, Mariana propõe a cada espectador uma espécie de pacto: “para eu te contar essa história, vamos ter que usar a imaginação. Aqui é teatro, não temos locações reais, câmeras movidas por drones, dezenas de figurantes, atores conhecidos… Estou aqui, só. Somente eu, ele. E vocês. Vamos ter que imaginar tudo. Enfim, nada aqui nos será dado de mãos beijadas”, convida.
O espetáculo começa com o palco limpo. Aos poucos, o público assiste à chegada de diversos aparatos tecnológicos relacionados, principalmente, ao som, como microfones, samplers, guitarras etc. “À medida que a loucura de Macbeth se manifesta, vamos incorporando elementos de cenário, vídeos, efeitos sonoros e de luz. Eu sou apaixonada por podcasts narrativos. Com certeza influenciou para trazer o som ao centro da cena”, explica.
Em contracena com Mariana Muniz, ao longo de toda apresentação, o músico Maurílio Rocha – responsável pela trilha sonora original – canta e toca, ao vivo. “Ele trouxe um peso do heavy metal que atualiza a obra e dá uma roupagem diferente do que estamos acostumados a ver numa peça do bardo”. O artista é também quem orquestra toda a atmosfera sonora. “Controla os efeitos de voz dos microfones que usamos, o que gera um estranhamento muito interessante, que contribui para a dinâmica do espetáculo. Essa pesquisa dos efeitos e samplers foram fundamentais para a composição da cena”, ressalta.
Parceiras desde 1994, Mariana e a diretora de atuação Ana Régis estão juntas em mais um trabalho. “Ana cuidou do ritmo, das nuances, das diferenças entre personagens, ou seja, de como essa história é contada ao público”, diz. Já Thálita Motta responde pela direção de encenação. “Ela pensou nos desenhos da cena e em como interagem com os elementos estéticos que trazemos”, comenta.
Numa escolha minimalista, a luz de Akner Gustavson e a cenografia de Bruna Christófaro sugerem mudanças de espaço, tempo e clima. “Usamos o ciclorama e ‘tingimos’ o palco de cores intensas a partir de uma frase ou de um gesto. Há frestas de luz, mudanças de espaços, de períodos do dia ou da noite. É um espetáculo que precisa de contrastes e as sombras são muito requisitadas, pois remetem aos estados emocionais das personagens”, descreve.
Os figurinos de Silma Dornas vestem as três personagens interpretadas por Mariana Lima Muniz, presentes em cena: a própria atriz, Macbeth e Lady Macbeth. Pouco a pouco, as peças se sobrepõem e se confundem, da mesma forma que os personagens. “Tem vários elementos renascentistas como golas e rufos e, ao mesmo tempo, tem uma pegada high-tech. É uma mistura proposital que dialoga com os demais elementos da cena”, adianta.
Segundo Mariana Muniz, “Macbeth 22” não traz apenas uma visão crítica e contemporânea sobre a obra de Shakespeare. Antes de mais nada, “quisemos fazer uma obra que além de aliar o erudito ao popular, o clássico ao contemporâneo, conseguisse chegar a público com força e afeto. É também uma homenagem a Shakespeare que, depois de tantos séculos, continua ‘sacudindo’ o reino da nossa condição humana”, conclui.
FICHA TÉCNICA
Conceção e atuação: Mariana Lima Muniz
Dramaturgia: Mariana Lima Muniz e David Maurity
Encenação: Thálita Motta
Guitarrista e música original: Maurilio Rocha
Direção da atriz: Ana Regis
Participações especiais: Inês Peixoto, Fernanda Vianna, Lydia Del Picchia e Rejane Farias
Produção executiva: Polyana Horta
Cenografia: Bruna Christófaro
Cenotécnico: Helvécio Isabel
Figurino: Silma Dornas
Iluminação: (criação, montagem e operação) Akner Gustavson
Sonorização (montagem e operação): Bruno Souza Banjo
Maquiagem: Malu Magalhães
Vídeo de animação: Fabiano Lana
Assessoria de imprensa e mídias digitais: Rizoma Comunicação e Arte
Identidade Visual: Cíntia Marques
Fotografia: Guto Muniz
Vídeos: Leila Verçosa e Byron O’neill
Produção: Arte em Conexão
Apoio: Departamento de Artes Cênicas EBA/UFMG
SERVIÇO
Estreia Macbeth 22 baseado na obra de William Shakespeare
3 a 12 de fevereiro, sexta e sábado, às 20h, domingo, às 19h
Funarte MG (Rua Januária, 68 – Centro)
Ingressos à venda no Sinparc (Shopping cidade e Pátio Savassi), no site vaaoteatromg.com.br e pelo aplicativo Vá ao teatro MG a R$20 ou na bilheteria do teatro a R$42
Classificação indicativa: 10 anos| Gênero: contemporâneo | Duração: 60 minutos
Mais informações: @espectaculomacbeth