O curador percebe e pretende colocar à baila essa forma de escrever, que vem da publicidade, de ambas as autoras. “Talvez pela experiência publicitária, ambas são muito hábeis em elaborar cenas altamente visuais, em poucas palavras elas definem uma situação. São frases que seduzem muito rapidamente”, observa José Eduardo. “A babá que planeja um sequestro ou a garçonete que seduz e rouba seus clientes, nos livros de Giovana, e a prostituta cobiçada ou a mãe que abandona o filho na calçada, nas obras de Carla, são figuras literárias que grudam em nossa cabeça de leitores, prova do domínio narrativo de ambas”, diz.
Mesmo com todas essas semelhanças, José Eduardo entende que Carla e Giovana possuem características muito distintas. “No entanto, a forma como ambas constroem suas histórias é bem diversa, elas são donas de voz literária própria. É na diversidade que elas apontam para a força da literatura que floresce no país nos últimos anos”, observa o curador. Carla Madeira é dramática, leva para seus escritos um clima tenso com a emoção pujante. Giovana Madalosso tem uma escrita irônica e acidez. “Mas ambas estão sempre tratando do que há de mais humano em nós. Com delicadeza ou sarcasmo, elas nos conduzem ao que temos de mais íntimo”, revela José Eduardo.
Durante a sessão, José Eduardo vai focar nas obras como “Tudo é Rio” e “Véspera” na trajetória de Carla, e “Suíte Tóquio” e “Tudo pode ser roubado” na obra de Giovana. “Me interessa entender o processo de escrita de cada uma. Carla já confessou, por exemplo, que “Tudo é rio” ficou 14 anos parado, já que ela iniciou o texto, decidiu parar e demorou todos esses anos antes de retomá-lo. É uma história interessante a ser compartilhada com o público. Giovana tem conciliado o ofício de escritora com crônicas publicadas semanalmente na Folha de São Paulo, o que coloca a autora em permanente exposição. Até onde isso influencia em sua literatura é algo também a ser debatido”, conta o jornalista.
Sobre o Letra em Cena e sua nova versão
Idealizador e curador do programa literário que já está em sua 8º edição, o Letra em Cena. Como ler…, nesta sessão no Teatro, inaugura uma vertente nova do projeto, aberta ao debate da literatura contemporânea em geral. “Até 2022, o projeto tinha uma marca muito clara ao homenagear autores e autoras de língua portuguesa consagrados e já falecidos. Este ano, ampliamos este leque ao homenagear também autores vivos e em atividade”, afirma José Eduardo Gonçalves.
O curador destaca que colocar o autor em contato com o público é um diferencial marcante da nova fase do projeto, e realizar o encontro no Teatro é um marco. “Agora, damos mais um passo, com esta edição que traz ao palco as próprias escritoras para debater suas obras com o público. Minha expectativa é a melhor possível. São autoras que eu admiro e respeito. Tenho certeza que o Teatro é o lugar certo para recebê-las e a todo o público que tanto aprecia o que elas têm nos proporcionado. A literatura brasileira do século XXI tem muito a nos dizer”, conclui.
Serviço
Letra em Cena. Como ler Carla Madeira e Giovana Madalosso
Data: 27 de junho de 2023, terça-feira
Horário: 19h
Local: Teatro do Centro Cultural Unimed-BH Minas
Classificação: livre
Ingressos: gratuitos na Bilheteria do Teatro no dia do evento a partir das 17h