sexta-feira, março 14, 2025
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Cotidiano do brasileiro comum inspira a exposição “Flávio Cerqueira – Um Escultor de Significados”, que estreia no CCBB BH

Com curadoria de Lilia Schwarcz, a mostra reúne cerca de 40 obras emblemáticas da carreira do artista, a maioria exibida pela primeira vez em Belo Horizonte; a exposição gratuita estreia em 12 de março.

A inspiração vem das ruas, do ônibus, dos mais diversos locais públicos. Vem, sobretudo, da observação (e admiração) por quem ocupa esses espaços: pessoas comuns. Para elas, o artista Flávio Cerqueira ergue nobres esculturas em bronze. O mesmo bronze que fora reservado por séculos a figuras proeminentes e elites, exalta, pelas mãos do artista, a poética de cenas cotidianas; o garoto distraído, a menina sonhadora; sem deixar de acenar para as angústias que rondam o imaginário coletivo, como questões de classe, identidade e raça.

A partir de 12 de março, os belo-horizontinos poderão conhecer de perto essas histórias, e, quem sabe, se enxergar nelas. A exposição “Flávio Cerqueira – Um Escultor de Significados”, inédita na capital mineira, será exibida no andar térreo do CCBB BH. Composta por cerca de 40 obras emblemáticas dos 15 anos de trajetória do escultor, elas estarão não só nas galerias do Centro Cultural, mas também em seu hall principal e nos espaços de circulação internos e externos do prédio histórico. A exposição ficará em cartaz até 2 de junho e a visitação é gratuita mediante retirada de ingresso pelo site ccbb.com.br/bh e na bilheteria do CCBB BH.

Considerado um nome central no panorama da arte contemporânea, com obras em importantes museus ao redor do Brasil e no exterior, Cerqueira é reconhecido pela técnica primorosa e originalidade. “Ele retoma a tradição da cultura figurativa presente nas esculturas e a traduz no sentido de incluir nela uma outra tradição”, observa a historiadora e antropóloga Lilia Schwarcz, que é curadora da exposição.

Público como coautor de significado

Flávio Cerqueira busca dissolver as fronteiras entre a obra de arte e o espectador, convidando-o a ser coautor de significados da sua obra. “De dentro do transporte público, ele anota traços, repara nas roupas, radiografa suas ocupações. Como costuma dizer: ‘faz figuras escultóricas com o cara do bar, do buzão’. Porém, ele não cria retratos, cria personagens fictícios”, conta Schwarcz. Segundo ela, Cerqueira enxerga a escultura como um instante pausado do filme, “é repertório de vida que ele começa a narrar, mas é o espectador quem coloca sentido e cria o ponto final. Todos são, assim, coautores de significados.”

Um diálogo com a esperança

Por mais que as esculturas atravessem questões sociais, raciais, de gênero, elas não têm um viés documental ou de denúncia. “Não é um trabalho panfletário”, sublinha o artista. Seu interesse é pela figura humana e suas dimensões simbólicas, poéticas e humanas. “São narrativas que dialogam com a esperança, com as possibilidades, propõem uma pausa no tempo”, conta Cerqueira.

Segundo Lilia Schwarcz, é certo que as obras falam de marginalidade – no sentido de flagrar personagens que em geral restam à margem – mas o artista não as reduz a vítimas. “Há algo de sempre elevado nas figuras que Flávio Cerqueira cria. São personagens representados de maneira altiva, com respeito, quase de maneira filosófica”.

Intimidade e observação

Composta por cinco núcleos, a exposição “Flávio Cerqueira – Um Escultor de Significados” passeia pelas diversas histórias de vida que inspiram o artista, desde narrativas autobiográficas até a observação do outro.

“Labirinto da memória” traz as obras inspiradas nas histórias do próprio Flávio Cerqueira, como “Iceberg” (2012), “Ninguém nunca esquece” (2014) e “Pretexto para te encontrar” (2013). Segundo ele, a escultura ‘Iceberg’ é a mais autobiográfica entre a sua obra. “Desde quando a produzi, penso o meu trabalho como momentos congelados de uma história, um desejo de pausar um instante vivido e usufruir dele, nem que seja por mais uma única vez”.

“Um caminho sem volta” é o núcleo que aborda, de forma intimista, a relação de Cerqueira com a educação. “Nasci em uma família de poucas posses materiais, mas me lembro de uma coleção da enciclopédia Barsa que ficava empilhada na casa em que cresci. Segundo minha mãe, o conhecimento seria o bem mais precioso que eu poderia conquistar em vida, e, ao contrário dos bens materiais, este jamais me seria roubado. Muito embora algumas vezes ele seja negado ou negociado… Assim, o livro é um objeto recorrente na minha produção”. Integram esse eixo da exposição, as obras “Foi assim que me ensinaram” (2011), “Eu te disse” (2016), “Se precisar, eu conto outra vez” (2016) e “No meu céu ainda brilham estrelas” (2023).

Já o núcleo “Histórias – as minhas histórias, as nossas…” é o que reúne o maior número de esculturas e exibindo, entre elas, “Amnésia” (2015), “Tião” (2017), “Em memória de mim” (2017), “Onde tudo acaba em mim” (2021) e “Desenho Cego” (2024). Segundo Cerqueira, essas obras dialogam com a transversalidade de histórias, as suas e das pessoas que o inspiraram. “Os artistas que eu mais admirava sempre falavam deles mesmos, das suas histórias, seus traumas, suas angústias e seus desejos, sem alguém do lado para ‘explicar’. Aquelas histórias não eram apenas deles, eram minhas também. Eu via, sentia e me emocionava. Por que eu faria diferente? Esta sala é um convite para conhecer algumas histórias – as minhas, as nossas histórias.”

Pensado para áreas abertas, “O jardim das utopias” explora de maneiras diferentes a escala dos trabalhos e outros elementos na escultura, como plantas, água e vidros. A busca por uma mudança do eu e o desejo de criar um lugar imaginário norteiam essa ilha de possibilidades, muitas vezes utópicas, mas que trazem leveza ao cotidiano caótico da existência.

Finalizando o percurso expositivo, “O processo é lento” aborda as etapas de criação das esculturas de Flávio Cerqueira. “Lembro-me de um professor me dizendo que uma ideia não executada é apenas uma ideia. E, sem sombra de dúvida, uma das coisas que mais me fascinam em ser artista é o fazer e todos os processos aí envolvidos, por mais demorados que sejam.”

Circuito Liberdade 

O CCBB BH é integrante do Circuito Liberdade, complexo cultural sob gestão da Secretaria de Estado de Cultura e Turismo (Secult), que reúne diversos espaços com as mais variadas formas de manifestação de arte e cultura em transversalidade com o turismo. Trabalhando em rede, as atividades dos equipamentos parceiros ao Circuito buscam desenvolvimento humano, cultural, turístico, social e econômico, com foco na economia criativa como mecanismo de geração de emprego e renda, além da democratização e ampliação do acesso da população às atividades propostas. 

 

SERVIÇO

“Flávio Cerqueira – Um Escultor de Significados”

Data: 12 de março a 02 de junho de 2025

Local: Galerias do térreo, hall e espaços de circulação do Centro Cultural Banco do Brasil Belo Horizonte

Endereço: Praça da Liberdade, 450 – Funcionários – BH/MG

Funcionamento: aberto de quarta a segunda, das 10h às 22h.

Classificação indicativa: livre

Ingressos gratuitos disponíveis em ccbb.com.br/bh e na bilheteria física do CCBB BH.   

 

Leo Junior
Leo Juniorhttps://viralizabh.com.br
Bacharel em Publicidade e Propaganda pelo Centro Universitário UNA, graduado em Marketing pela Unopar e pós graduado em Marketing e Negócios Locais e com MBA em Marketing Estratégico Digital, é um apaixonado por futebol e comunicação além de ser Jornalista certificado pelo Ministério do Trabalho.
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