A Comissão Curadora do projeto CORPO MOSTRA CULTURA selecionou as oito mulheres negras que serão agraciadas com o impulsionamento do desenvolvimento de habilidades técnicas, artísticas, criativas e de gestão de carreira. São elas: Érica Priscila de Araújo, Evelyn Raiane Soares Batista, Gilmara Silva Souza, Juliana do Carmo e Silva, Luiza Vitória Gomes dos Reis, Maria Emanuela Vieira dos Santos, Nayara Alana dos Santos Tereza e Thallyta Vitória Gonçalves Coutinho.
A seleção levou em conta o fato de todas elas estudarem dança regularmente, há pelo menos três anos, de terem atuação profissionalizante e/ou profissional na área da dança há pelo menos um ano, e se declararem pretas. O projeto será desenvolvido no bairro Alto Vera Cruz em Belo Horizonte e irá contribuir para o sucesso profissional de cada uma delas, além de promover a valorização pessoal, o reconhecimento da importância da história e cultura destas mulheres.
SELECIONADAS
Erica Priscila de Araújo – Dança desde 2007. Iniciou seu ciclo profissional com a dança com a Dança de Salão, em seguida, se especializou em samba de gafieira, salsa e zouk, migrando para danças solos e sensuais como stilleto, hells e chair dance. Já realizou trabalhos de vídeo clipes com artistas locais como Ynaê e Sol Lima, e já trabalhou em um videoclipe com Djonga. Já fez aulas com professores nacionais e internacionais de vários estilos de dança, como samba até Twerk e participou de uma Residência artística para mulheres negras pelo CRDança, a qual considerou uma experiência extraordinária.
Evelyn Raiane Soares Batista – Iniciou sua carreira em 2012 fazendo aulas de Ballet e sendo uma das primeiras alunas do projeto Agnes Cidadania, logo após ingressou como bailarina na Cia Agnes, onde teve participação em alguns espetáculos como: Que Lugar é Esse? Zona quente e Quitérias. Em 2016 participou do Festival Danzamaratón na Espanha, e em 2019 participou de uma residência artística com quatro bailarinos internacionais. Recentemente participou do espetáculo “A Jogada” com o Coletivo no meio de paracom. Atualmente não participa de nenhuma companhia ou coletivo, atua também como professora de dança para crianças e adolescentes nas escolas da região do barreiro.
Gilmara Silva Souza – Nasceu em 1988 e vive desde então no bairro Ipiranga, em BH. É a filha mais velha de um casal negro de trabalhadores têxteis e multiartistas. Sempre amou dançar: samba-reggae, samba de roda, funk, forró e quadrilha. Quando entrou para o curso de graduação em Pedagogia em 2008, conheceu grupos de dança folclórica em BH e dançou em dois deles: Congá ê Aruanda. Academicamente atua em experiências comunitárias e escolares quilombolas. Permanece trabalhando com a formação de professoras/es quilombolas e seu grande sonho é trabalhar as artes performáticas quilombolas. Além de dançar, é produtora cultural e cantora de carnaval. Foi roteirista, modelo e locutora no curta-metragem Cores em Diáspora (2022). É egressa da Residência Artística Mulheres Negras (2024).
Juliana do Carmo e Silva – Aprendeu a apreciar a dança desde muito cedo e acredita que seus primeiros passos foram no samba, por influência das rodas frequentadas pela sua mãe.
Outra influência que se originou em casa foi a capoeira pois seus tios são Grãos-Mestres nessa luta/dança. Por isso, participou e vivenciou muitas rodas e treinos de capoeira. Outro ritmo que sempre fez parte da sua trajetória é o funk, que estava inserido no seu cotidiano, pois nasceu no Aglomerado da Serra e por muitos anos residiu no Taquaril, ambos são espaços periféricos da cidade de Belo Horizonte. Ao longo dos anos, teve a oportunidade de participar de festivais de dança em Belo Horizonte/MG, já auxiliou na construção coreográfica de espetáculos, eventos e vídeos para internet. Frequentadora assídua de rodas de samba e eventos afrocentrados. É Assistente Social e atuou de novembro de 2022 até dezembro de 2023 em um projeto voltado para o funk no território L4 (Alto Vera Cruz, Granja de Freitas e Taquaril) e outras vertentes, auxiliando nas oficinas formativas direcionadas para participantes do projeto, oficineiros e equipe técnica. A fim de transformar o olhar comunitário para a cena do funk, rap, trap e outras linguagens, compreendendo como fator de proteção e inclusão social, desde setembro de 2023 está vinculada a um projeto social que atua no Aglomerado da Serra com crianças, adolescentes, suas famílias e a comunidade, onde são realizadas atividades vinculadas à educação, porém a prioridade é desenvolver atividades sociais, culturais e esportivas.
Luiza Vitória Gomes dos Reis – Estudante de Letras Bacharelado, na Universidade Federal de Minas Gerais, encaminhando para o terceiro período. Bolsista no projeto Sarandeiros da UFMG, companhia de danças populares. Experiência de 10 anos com o ballet clássico, além de algumas passagens do estilo jazz e contemporâneo pela academia Transforma Centro de Dança em Curvelo, Possui experiência no mercado de trabalho; atendente, vendedora e produtora de conteúdo em loja de vestuário, na cidade de Curvelo. Atua também como modelo agenciada pela Doze e Máxima.
Maria Emanuela Vieira dos Santos – Tem 24 anos, mulher cis, hétero, preta, solteira e natural do Rio de Janeiro. É produtora cultural, e os seus principais objetivos com a dança estão relacionados ao fortalecimento pessoal. Ainda não consegue viver apenas da sua arte, mas está confiante que um dia conseguirá esse feito. Sua motivação para participar da residência é processo, igualitário. Acredita que estar ao lado de três mulheres pretas, ouvir outras narrativas, outras coisas de dança, será extremamente importante. “Entendo que minha sensibilidade será tratada com respeito e com carinho”.
Nayara Alana dos Santos Tereza – Mãe, profissional em dança há mais de 15 anos, formada em Educação Física, professora de dança folclórica em uma Escola da rede municipal de Belo Horizonte e dançarina pelos grupos Aruanda e Guaráras. Sua experiência em dança iniciou aos nove anos de idade, através do Jazz e Ginástica Rítmica, dando continuidade com o Ballet Clássico pela Academia Toute Forme. Atualmente dançarina do Grupo Guararás, tradicional grupo de Dança Folclórica, esteve presente nas realizações de apresentações em festivais e eventos culturais tanto nacionais quanto internacionais. Em 2015, foi convidada para ser passista no Bloco Caricato Mulatos do Samba, onde atualmente é Rainha da Bateria. Em 2018, desfilou como destaque de chão na Escola de Samba Cidade Jardim, hoje em dia desfila como destaque de chão na Escola de Samba Canto da Alvorada. Além de fazer apresentações como Passista Show. Busca levar seu conhecimento, experiência e amor pela dança para crianças negras periféricas que não possuem acesso a arte da dança.
Thallyta Vitória Gonçalves Coutinho – Começou a dançar em um grupo, chamado Impactto em 2014, onde passou por diversas experiências e contato com muitos estilos diferentes. Em 2018, entrou no Projeto Anjos d’ Rua, onde começou a estudar o Hip Hop e fazer Ballet Clássico, em 2019 já iniciou no contemporâneo e no Locking e em contrapartida entre na Crew Ubdi, depois fui passando por outros estilos até que em 2022 teve a oportunidade de participar de uma Oficina idealizada pelo Grupo Identidade que iniciou em Março e finalizou em Dezembro de Jazz Clássico, Hip Hop e Dance Hall. Desde então se encontra cada vez mais no Hip Hop e no Dance Hall, e tem estudado o House Dance. Além de integrar o coletivo multiartístico Corpos em Um e estar no Projeto Jameica.
PROJETO
O CORPO MOSTRA CULTURA consiste num projeto inovador de CRIAÇÃO ARTÍSTICA CÊNICA, que capacita mulheres negras impulsionando-as para o desenvolvimento de habilidades técnicas, artísticas, criativas e de gestão, além de contribuir para o sucesso profissional, promovendo a valorização pessoal e o reconhecimento da importância da história e cultura de cada uma.
Também contribui para a promoção da igualdade racial, empoderando mulheres pretas, destacando suas vozes e histórias através da dança. Além disso, ao fortalecer a autoestima e a valorização pessoal, o Corpo Mostra Cultura cria cidadãos mais confiantes e conscientes de seu potencial; ao desenvolver habilidades técnicas e artísticas, este não apenas enriquece o cenário cultural, mas também oferece oportunidades profissionais, reduzindo desigualdades econômicas. O projeto tem como diferencial a combinação de criação artística, apresentações e circulação de solos em Dança, e os bate-papos para compartilhamento dos processos.
Para a Idealizadora, Direção Geral e Professora do projeto, Cyntia Reyder, o CORPO MOSTRA CULTURA, é uma oportunidade para os estudantes darem um salto; avançarem realmente no desenvolvimento pessoal e profissional, independente do ponto em que cada uma se encontrar. “Visto que o crescimento geral do ser; a realização em todos os campos da vida têm como base um processo de auto desenvolvimento contínuo das capacidades pessoais, relacionais, cognitivas e produtivas, esta proposta foi desenhada dentro desta mentalidade/visão, de modo a auxiliar cada participante a colocar o máximo do seu potencial para fora, mediante aprendizados e trocas riquíssimas para todas as envolvidas”, acrescenta.
DESENVOLVIMENTO
A residência será desenvolvida em quatro etapas distintas.
No primeiro módulo, as estudantes verão conteúdos relacionados ao desenvolvimento técnico e artístico em dança, além de um trabalho específico de consciência e domínio corporal relacionado ao desenvolvimento de autoconhecimento, com exercícios voltados para a capacidade de improvisação e de criação. Junto a isto, conteúdos ligados ao empoderamento negro farão também parte da pauta.
No segundo módulo, será trabalhada a criação dos mini espetáculos solos (de máximo 15 minutos), ao mesmo tempo, em que estarão realizando encontros de mentoria de desenvolvimento pessoal e profissional.
No terceiro módulo, terá continuação o aprimoramento dos mini espetáculos solos, e ao mesmo tempo as estudantes terão conteúdos de produção, de modo que, após o projeto, tenham a possibilidade de se organizar para realizarem outras mostras, ou mesmo inscreverem seus trabalhos em editais de circulação, gerando a oportunidade de geração de renda a partir dos solos. No último dia deste módulo haverá a mostra aberta ao público.
No Módulo seguinte, as bolsistas terão a experiência da circulação das obras com a apresentação dos espetáculos solos na cidade de Capim Branco.
Guidá Ramos completa dizendo que esse projeto é importantíssimo: “Existem poucas residências acontecendo onde as mulheres pretas, mulheres negras, têm esse protagonismo, onde elas têm a possibilidade de estar aprendendo a desenvolver seus trabalhos, a desenvolver ideias e a aprender mais sobre autoprodução, autogestão de carreira, além de ser uma oportunidade incrível de se produzir um trabalho para geração de renda, possibilitando que as mesmas circulem com estas mini obras que serão produzidas. Gerar possibilidade de renda para elas também”, enfatiza.
ESCOLHA DOS LOCAIS
O projeto CORPO MOSTRA CULTURA terá duas locações, uma no CRAS- (Centro de Referência de Assistência Social) Granja de Freitas e na cidade de Capim Branco. Além de possuir uma estrutura adequada, que comporta com excelência às demandas do projeto, o CRAS Granja de Freitas foi escolhido por ser o local onde a proponente atua desde 1991, promovendo a valorização da história e cultura Afro Brasileira e Africana por meio da Dança, além de trabalhar também com o empoderamento de mulheres.
A cidade de Capim Branco foi o local escolhido para a etapa de circulação tanto pelas características da região, pela questão da descentralização do desenvolvimento cultural, como também pelo trabalho em parceria com Regina Coeli, mulher preta, que realiza ações culturais na região de Matozinhos, Capim Branco e Pedro Leopoldo, há mais de 30 anos. Vale ressaltar que Regina Coeli ministrará uma aula de produção para as bolsistas.
CONHEÇA AS PROFESSORAS DO PROJETO
Cyntia: Profissional em Dança há mais de 30 anos, atua como Diretora, Coordenadora e Produtora de Grupos e Projetos Educacionais, Artísticos e Culturais em Dança & Artes Integradas. Pesquisadora Corporal e Pós Graduanda em Ensino e Pesquisa no Campo da Arte e Cultura, há 10 anos atua com Mentorias em Desenvolvimento Pessoal e Profissional a partir da Linguagem Corporal. Foi bailarina do Camaleão Grupo de Dança e da Cia. De Dança do Palácio das Artes em Belo Horizonte, através das quais obteve diferentes premiações em MG. Esteve na Holanda em 2008 e na França em 2012 com aulas e apresentação de espetáculo. Desde 2006 atua em projetos sócio culturais em regiões periféricas de BH através da ONG Corpo Cidadão, Programa Valores de Minas –Cicalt-, e Escola de Artes –Instituto Unimed BH. Como Coordenadora da área da Dança no Programa Valores de Minas, fez a Co-Direção do espetáculo “Zanzar” (2014), e a Direção Geral e Artística do Espetáculo “Nós Sobre Nós” (2015), que contaram com a participação de cerca de 400 jovens das áreas de Circo, Dança, Artes Visuais, Música e Teatro, Coreógrafa de turmas de Dança desde 1996, a partir de 2005 dirige espetáculos de Dança & Artes Integradas, incluindo espetáculos solos, e de cias./grupos. Com as experiências em direção de espetáculos elaborou uma metodologia específica com exercícios para a auto gestão pelo desenvolvimento técnico e artístico.
Marilda Cordeiro – Mulher negra, 56 anos, Mestra, performance, professora de dança Afro, coreógrafa e educadora social. Formada em pedagogia, especialista em Dança e Consciência Corporal, iniciou sua carreira de dança aos oito anos de idade participando do Grupo Folclórico Meninos de Sinhá dirigido pelo mestre Léo e o educador Quinzinho no CIAME Flamengo. Aos 12 anos foi convidada pelo Mestre Marcio Alexandre, vulgo Negão para ser integrante do Grupo Quilombo das Gerais, iniciando então na Dança Afro. Começou seu trabalho como educadora social e professora de Dança Afro em 1991, na comunidade do Alto Vera Cruz, desde então vem trabalhando como Arte/educadora desenvolvendo projetos de corporeidade ligados à Educação e valorização da História e Cultura Afro-brasileira e Africana. Atualmente, ministra aulas de dança para crianças e jovens da saúde mental no projeto Arte da Saúde, aula de Afro-Zumba, para mulheres vítimas de violência doméstica no Programa Mediação de Conflitos, coordena o Projeto Mulher Preta em Cena com meninas pretas de uma escola da rede municipal. Diretora, professora e coreógrafa do coletivo de mulheres “Autocuidado no Terreiro”
Guidá Ramos – Mulher preta, mãe, empreendedora, Arte educadora, produtora cultural, intérprete criadora, diretora artística, professora de danças e coreógrafa. Atuante há 20 anos na cena artística, é idealizadora e diretora da Crew feminina de danças urbanas UBDI, dos eventos “Agosto das deusas”, “Encontrão das Minas”. Estudante e pesquisadora da cultura Hip Hop e das danças do povo preto, cria seus projetos e trabalhos com o foco no protagonismo feminino preto e periférico. Criando ações diferenciadas no qual as mulheres possam se descobrir ou se redescobrir através das trocas de saberes em diferentes campos de atuação. Atua como MC/apresentadora e jurada em batalhas de danças e eventos em geral. É coreógrafa e dançarina da cantora mineira Bia Nogueira desde 2022.