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Companhia de Teatro Toda Deseo retorna com o espetáculo “Trilogias de Traumas”

Montagem dirigida por Rafael Bacelar é dividida em três atos solos que abordam os temas: maternidade, exploração dos corpos e isolamento. Com dramaturgia de David Maurity, os textos são construídos por motivações pautadas nas experiências e pesquisas de cada artista em cena. A atual temporada ganha novos contornos de acordo com o atual contexto social. Apresentações acontecerão de 17 a 24 de março, de segunda a segunda (sem interrupções), sempre às 20h, na Gruta: espaço cultural, sede da Toda Deseo.

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A companhia mineira de teatro Toda Deseo apresenta o espetáculo “Trilogia de Traumas”, trabalho dirigido por Rafael Bacelar, que discute assuntos como a vivência da maternidade, o não pertencimento e exploração dos corpos e o isolamento social. A montagem é estruturada em três atos solos: “Conselheira”, “Cachorra” e “SPUR”, interpretados pelos atores Ju Abreu, Idylla Silmarovi e David Maurity, que colocam os temas em cena a partir das suas pesquisas e experiências individuais. A peça segue a mesma estrutura apresentada na sua última temporada, em 2023, mas ganha novos contornos pelo contexto atual social. A temporada integra o projeto de formação artística da Toda Deseo, que inclui a realização de oficinas gratuitas nos Centros Culturais Venda Nova, Bairro das Indústrias e Alto Vera Cruz, sobre os métodos de criação da Companhia.
As apresentações de “Trilogia de Traumas” acontecem entre os dias 17 e 24 de março, de segunda a segunda (sem interrupção), sempre às 20h, na Gruta: espaço cultural, sede da Toda Deseo (Rua Pitangui, 3613, Horto). Os ingressos custam R$20 a inteira e podem ser adquiridos no site www.sympla.com.br e na portaria do espaço. Pessoas trans, travestis e participantes das oficinas não pagam. Este projeto será executado com recursos do Fundo Municipal de Cultura de Belo Horizonte.
“Trilogia de Traumas” estreou em 2022, marcando o primeiro trabalho inédito da Toda Deseo após a pandemia da Covid-19. O espetáculo inaugurou um novo formato dentro da companhia que, pela primeira vez, experimentou um espetáculo apresentado em atos estruturados a partir de trabalhos individuais. Com dramaturgia de David Maurity, os textos são construídos por motivações pautadas  nas experiências e pesquisas de cada artista em cena, como a vivência da maternidade, a exploração de um corpo feminino e o isolamento social. “O espetáculo carrega muitas das sensações e reverberações do período pandêmico, de isolamento, de solidão, da concretude da finitude, de um olhar pessimista para a sociedade. Mas todos os textos, de alguma maneira, vão de encontro a liberdade, não como uma solução, mas como possibilidade. Nós optamos por transformar esse período em arte, em teatro, apesar de toda dureza, para conseguir conversar com a sociedade.  Com o nosso trabalho, a gente espera provocar faíscas – e porque não incêndios – naqueles/as que nos assistem, para que consigam expandir seus olhares e escutas, para que criem conexões afetivas e se tornem seres sensíveis às diversas formas de existências. E os comentários sempre foram positivos em relação à nossa tentativa de dar vazão a esses temas”, comenta explica David Maurity, ator, dramaturgo e co-fundador da Toda Deseo, David Maurity.
David Maurity conta que o espetáculo segue a mesma estrutura apresentada na sua última temporada, em 2023, mas ganha novos contornos pela própria história e atual contexto social. “A peça mantém a sua estrutura de três atos e textos. Mas, de certa forma, as pessoas vão se deparar com um novo olhar para a montagem. Hoje, a pandemia da Covid-19 parece ter sido um capítulo vencido, o governo mudou e, consequentemente, a situação do país. Ao olhar para o trabalho em 2025, a gente percebe que a ´pandemia´, enquanto surto de uma doença, pode ser usada como metáfora para outras diversas questões, como uma pandemia de ideais fascistas, uma pandemia de ideias conservadoras, uma pandemia de ideais negacionistas sobre o clima, sobre questões de gênero e de raça. São muitos os exemplos e todos eles culminam no mesmo sentimento do período de pandemia de Covid-19, que é de uma iminência da morte. Todas essas outras ‘pandemias’ afetam negativamente a nossa sociedade, a nossa vida. Mas, para cada uma delas, nasce o desejo de liberdade, que nos faz movimentar para sair desse obscurantismo.”
O diretor Rafael Bacelar reforça que, apesar de trazer as vivências individuais de cada artista, o espetáculo não se trata de uma obra autobiográfica. “O ‘Trilogia de Traumas’ faz conexões com as experiências individuais de cada ator, mas de longe busca traçar aspectos de uma veracidade com a história de cada artista e de cada cena, construída e constituída no momento da ação, que é o espetáculo. A dramaturgia de David Maurity criou um rasgo entre o real e a ficção, entre esse real que pode ser entendido como uma experiência coletiva. Afinal, o que estamos chamando no espetáculo de trauma não diz respeito apenas ao aspecto privado, pelo contrário, partindo da apropriação técnica e poética desses traumas, a gente torna público essas questões e amplia o debate.”
A escolha do espetáculo para abrir os trabalhos da Toda Deseo em 2025 parte do desejo de compartilhar com o público a essência da companhia, que desde a sua fundação, em 2013, se dedica a pesquisar novas formas de ocupação teatral e à criação artística contemporânea, a partir de questões relacionadas às identidades e suas diferenças, com olhar atento para temas que circundam o universo LGBTQIA+. “O ‘Trilogias de Traumas’ é um trabalho que tem o DNA da Toda Deseo enquanto objeto de discussão, de provocação, que toca nas questões de gênero e que também ultrapassa essas questões, atravessando outros temas. É possível olhar para este trabalho e perceber as ideias que a companhia vem dialogando, mesmo que ele pareça muito diferente daquilo que já fizemos em anos anteriores”, comenta David Maurity.
David Maurity, explica que a ideia de apresentar o espetáculo de segunda a segunda, sem interrupções, parte do desejo de tornar o trabalho da companhia mais democrático e acessível ao público. “Em Belo Horizonte, não é comum espetáculos em cartaz durante todos os dias da semana, salvo em espaços específicos, como o CCBB BH, que nas suas temporadas inclui as segundas-feiras. E a gente entende essa ideia da temporada seguida, sem pausas, como um convite ao público para celebrar o teatro também durante a semana. Sabemos que é um risco, mas resolvemos apostar nesse formato, e a expectativa é que as pessoas prestigiem essa temporada, como sempre acontece com os trabalhos da Toda Deseo”, explica David Maurity.
Atos 
A encenação começa com o ato “Conselheira”, com a atriz Ju Abreu, que reflete sobre a maternidade de uma mãe solo. Em seguida, é apresentado o ato “Cachorra”, com a atriz convidada Idylla Silmarovi, que retrata o não pertencimento e exploração dos corpos, e substitui o ato “Tóxica”, tema da primeira versão do espetáculo, em 2022, com o ator Ronny Stevens. Por fim, o ato “SPUR”, com o ator David Maurity, que discorre sobre um dia na vida de uma pessoa em isolamento social. “O ponto de partida para os textos são as vivências pessoais dos atores e atrizes envolvidos. Podemos dizer que os textos são colagens de situações reais, dentro de um contexto amplo de mundo. O mais importante é que os temas que compõem cada ato não foram escritos com o objetivo de criar uma super identificação do público com o que será apresentado e, sim, para que as pessoas consigam refletir sobre a sua própria existência”, explica David.
Com texto de David Maurity e Idylla Silmarovi, “Conselheira” foi escrita a partir de um áudio da atriz Ju Abreu sobre a sua rotina como mãe solo, mulher e profissional. O ato aborda a vivência de uma atriz mãe em cena, algo raro e que revela também os bastidores do teatro. A estreia do trabalho foi adiada em função da pandemia, mas a pesquisa da atriz vem sendo construída desde 2019, quando Juliana decidiu voltar aos palcos, já que em 2017, com o nascimento de seu filho, ela vinha se dedicando a outras funções da companhia. Em cena, ela traz as inquietações de uma mulher às voltas com o seu trabalho e o tempo dedicado à maternidade nada romantizada. Palavras, sentenças e ações fazem com que ela entre em conflito e seja arrebatada por fluxos intensos de pensamentos, frente a mais esse trabalho que parece beirar o impossível: cuidar de uma criança.
Em “Cachorra”, o texto de David Maurity investiga o não-pertencimento e as violências que um corpo, aparentemente sem memórias e incapaz de organizar o próprio passado, pode sofrer. Uma cachorra solta no mundo, sem eira, nem beira, jogada à própria sorte. Uma cachorra que lê as notícias do mundo, que deseja falar não para disfarçar a solidão ou o fracasso, pois ela não liga para isso.
Já a realidade do isolamento social e da necessidade de permanência em casa leva o público a uma situação mais intimista em “SPUR”. Com texto e atuação de David Maurity, o personagem da trama constrói uma narrativa detalhada sobre seu dia: uma trajetória marcada pela observação da casa, dos mínimos acontecimentos diários, a inconstância de sentimentos e sensações, as expectativas, a busca pela liberdade. De repente, o que se tem é só a própria presença e uma vontade de se debruçar para fora.
 
Toda Deseo  
A companhia nasceu em 2013 e tem na sua formação o ator e diretor Rafael Bacelar, a atriz e diretora Ju Abreu, o ato, diretor e dramaturgo David Maurity, o ator e iluminador Akner Gustavson, e o ator, diretor e preparador corporal Thales Brener Ventura e Carol Fescina, gestora de projetos. Entre suas principais realizações da Toda Deseo estão as peças: No soy un maricón (2013); Corpos que não importam (2014); CHÁ DAS PRIMAS (2015); Campeonato Interdrag de Gaymada (2015); Nossa senhora (2016); Ser experimento para tempos sombrios (2016), Glória (2018); Quem é você? (2019); CONSELHEIRA (curta-metragem – 2021) e Trilogia de Traumas (2022).
Mantendo todo o seu repertório ativo, a companhia realiza intercâmbio com múltiplos artistas, como Alexandre de Sena (Espanca!), Márcio Abreu (Companhia Brasileira de Teatro), Daniel Toledo (TAZ), Raquel Castro, Mariana Lima Muniz e Idylla Silmarovi. Já participou de importantes festivais como a Mostra Oficial de Teatro de Curitiba, Festival Internacional de Teatro de Belo Horizonte FIT-BH, Bienal Internacional Sesc de Dança, Virada Cultural de Belo Horizonte, Festival de Inverno de São João Del Rey (MG), Festival de Verão da UFMG, Circuito Sesc Verão (SP capital e cidades do interior), Campanha de Popularização de teatro de Belo Horizonte, entre outros.
Ficha Técnica 
Direção: Rafael Bacelar | Dramaturgia: David Maurity | Texto Conselheira – David Maurity e Idylla Silmarovi; Cachorra e SPUR – David Maurity | Elenco (na ordem dos solos): Ju Abreu, Idylla Silmarovi e David Maurity | Coordenação técnica e iluminação: Akner Gustavson | Trilhas: Ronny Stevens | Coordenação de produção: Carol Fescina e Thales Brener Ventura | Produção executiva: Thales Brener Ventura | Realização: Companhia de Teatro Toda Deseo
Serviço
Espetáculo “Trilogia de Traumas”
Companhia de Teatro Toda Deseo
17 a 24 de março, segunda a segunda, às 20h
Gruta: espaço cultural, sede da Toda Deseo (Rua Pitangui, 3613, Horto – BH)
Valor dos ingressos: R$20 (meia entrada)
Vendas: no site www.sympla.com.br e na portaria do espaço
Pessoas trans, travestis e participantes das oficinas não pagam.
Duração: 1h10
Classificação: 14 anos

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