Casas projetadas pelo arquiteto mineiro, que marcou a história urbana pluralista moderna, estão sendo demolidas sem deixar nenhum registro
As icônicas obras do renomado arquiteto mineiro Ronei Lombardi Filgueiras construídas nas últimas décadas do século XX, estão sendo demolidas. A demolição de suas obras, ocorridas nos últimos anos, representa uma perda significativa para a história da arquitetura pós-moderna. Nesta semana, há o registro de mais uma edificação residencial, projetada por Ronei Filgueiras, em processo de demolição no condomínio Retiro das Pedras, em Brumadinho, região metropolitana de Belo Horizonte.
Conhecido por seu risco autêntico e o uso de formas orgânicas inspiradas na natureza, Ronei Filgueiras assina obras como a Igreja Nossa Senhora de Fátima, localizada na Praça Carlos Chagas, conhecida como Praça da Assembleia. A obra de estilo pluralista moderno foi tombada pelo município de Belo Horizonte em reconhecimento à sua importância arquitetônica, histórica e cultural.
Ao percorrer as ruas de Belo Horizonte e arredores é fácil identificar seu risco ousado e único. Seus traços também estão presentes em projetos notáveis, como a Paróquia Santíssima Trindade no bairro Gutierrez, além de outras duas igrejas na cidade, uma no Barreiro e outra no Jardim Montanhês.
Legado ameaçado
O registro de grande parte do seu acervo formado por residências, que se encontram no Condomínio Retiro das Pedras, Brumadinho, Grande BH, está sob ameaça. Nos últimos anos, pelo menos, três edificações assinadas pelo arquiteto já foram demolidas. No Retiro das Pedras, está inclusive a casa que foi a moradia de Ronei Filgueiras e que abriga o sui generis teatro Domus Aurea – que fez parte da cena erudita nacional e internacional na década de 80.
Para a arquiteta e urbanista Ana Carolina Pereira Vaz, consultora da Temporis Patrimônio Cultural, é urgente uma ação de catalogação deste acervo. “Por falta de conhecimento ou valorização, suas obras estão pouco a pouco sendo demolidas sem ao menos haver um registro do seu valor e contribuição para a pluralidade e diversidade da arquitetura brasileira. Precisamos garantir às futuras gerações informações sobre o gênio que foi Ronei Filgueiras”, disse.
“Em suas obras há uma relação íntima entre tecnologia e estética, o uso de formas orgânicas inspiradas na natureza que elevam o desenho arquitetônico a outros patamares, como o da obra de arte. Paralela à arquitetura possuía talento excepcional para as artes plásticas com pinturas reconhecidas internacionalmente e exímios vitrais. Um homem à frente do seu tempo, também teve atuação na música e na literatura. Foi claramente influenciado por grandes nomes da arquitetura mundial, como Antoni Gaudí, Félix Candela e Eládio Dieste.”
Formado em Engenharia Civil pela UFMG na década de 50, se tornou arquiteto posteriormente. Além de seu legado em projetos arquitetônicos, ele foi o responsável pela criação do Hyparsystems que são diversos processos aplicativos das membranas no ramo da engenharia, utilizados em fundações, contenções, coberturas, plataformas, obras industriais e outras diversas aplicações.
A busca pela valorização do patrimônio mineiro é uma das ações da Temporis Patrimônio Cultural. Com atuação desde 2004, tem o objetivo de conciliar as demandas atuais de bem-estar e habitabilidade com as preexistências arquitetônicas e urbanas, encontrando, assim, uma renovação que atenda aos interesses de todos os agentes envolvidos, públicos e privados
