No dia 16 de julho, às 11h, será lançado o primeiro livro dedicado à obra do artista mineiro Amadeo Lorenzato. O título “Lorenzato” (Ubu editora) foi organizado por Rodrigo Moura e traz 240 imagens dos quadros do artista. O evento, que acontece na sede da AML, também conta com uma conversa abordando a vida e a obra do pintor, com participação de Rodrigo Moura e Ricardo Homem.
Pouco conhecido pelo público e pelos críticos durante sua vida, Lorenzato assinou e datou suas pinturas quando elas deixaram seu estúdio. Apesar de datadas, não é possível saber exatamente quando elas foram pintadas ou concluídas. Ele passeava por Belo Horizonte, procurando cenas da comunidade, quase como um cronista de seu tempo. A obra bilíngue reúne os principais trabalhos do pintor mineiro Amadeo Luciano Lorenzato e o público poderá conhecer e saber mais sobre seu trabalho. O livro traz um pouco da trajetória de Lorenzato, que produziu um corpo de obra estimado entre 3 mil e 5 mil pinturas com temas e iconografias os mais diversos, que refletem sua biografia e sua relação com a paisagem de Belo Horizonte, seu entorno e sua urbanização. Suas obras conhecidas datam dos anos 1940, quando ele voltou ao Brasil depois de ter passado quase trinta anos na Europa, a 1995, ano de sua morte. Únicas em suas técnicas e estilos, suas pinturas remontam a sua origem na classe trabalhadora, condição que o levou a conjugar as ambições artísticas à necessidade de sustentar a si e à família com o trabalho na construção civil. Só pôde se dedicar inteiramente à arte com mais de cinquenta anos, quando se aposentou devido a um acidente de trabalho. Seu ofício como pintor-decorador lhe inspirou a criação de uma técnica pictórica original, que se valia de instrumentos adaptados da decoração de paredes. Com o auxílio de um pente, ele raspava a tinta sobre a superfície repetidas vezes, criando uma fusão de cores com texturas e promovendo uma sensação de movimento. Costumava manipular as tintas a partir de pigmentos minerais encontrados no mercado, e frequentemente as aplicava sobre uma camada de alvaiade que contribuía para intensificar a vibração das cores. A fabricação dos suportes pictóricos, parte importante de sua economia de meios, o levava a reaproveitar pedaços de chapas de madeira e embalagens, às vezes recobertas com tecido ou papel, costurados ou colados à mão. Os formatos eram quase sempre pequenos ou médios – no máximo um metro no lado maior –, denotando certo sentido de domesticidade. Seus quadros têm aspecto áspero: são opacos, táteis e sensoriais. Durante muitos anos limitada a um círculo pequeno de admiradores, sobretudo de artistas e marchands de sua cidade natal, a obra de Lorenzato vem conquistando novas audiências nos últimos vinte anos, por meio de exposições, sobretudo em galerias comerciais, que culminaram numa série de apresentações internacionais em 2019. Essa reapreciação consolidou seu lugar entre os artistas modernos brasileiros, contribuindo para a ampliação do cânone. Assim como outros artistas chamados preconceituosamente de primitivos ou ingênuos, Lorenzato recorreu a fontes populares, reprocessando-as com referências eruditas dentro de uma perspectiva não hierárquica. Sua obra deve, pois, ser compreendida como parte da modernidade tardia brasileira. No entanto, mesmo a despeito deste renovado interesse comercial, o sistema da arte não tem sido capaz de produzir reflexão sobre sua obra no mesmo ritmo por meio de mostras institucionais e estudos acadêmicos.
Sobre os palestrantes Rodrigo Moura (Belo Horizonte, 1975) é curador, editor e crítico de arte, e atua desde 2019 Curador Chefe no Museo del Barrio (NY). Ricardo Homem (Belo Horizonte MG 1961) é pintor e desenhista.
Sobre Amadeo Lorenzato À primeira vista, seu trabalho lembra a arte popular, mas Lorenzato estava firmemente embasado pela arte clássica. O homem de origem simples, um pintor de paredes, que nunca deixou sua cidade natal até 1920, tornou-se cidadão do mundo quando se mudou para a Itália, fugindo com sua família da epidemia de gripe espanhola que assolava Belo Horizonte. Ao chegar à Itália, ele trabalhou na reconstrução da cidade de Asiero, destruída durante a Primeira Guerra Mundial, e em 1925 se matriculou em seu primeiro e único curso formal de arte, na Reale Accademia delle Arti, em Vicenza, onde começou a pintar no cavalete. Depois de terminar seus estudos, Lorenzato partiu para Roma, onde conheceu o artista holandês Cornelius Keesman. Durante a Segunda Guerra Mundial, ele trabalhou na construção e em uma fábrica de artefatos. Naquela época, quase 500 obras suas foram destruídas durante um ataque aéreo. Ele se familiarizou com a pintura renascentista italiana e leu a obra do artista e arquiteto Giorgio Vasari. Lorenzato voltou ao Brasil em 1948, casado com uma italiana. No navio, ele foi contratado para trabalhar em um hotel em Petrópolis, no estado do Rio de Janeiro, e pouco depois se mudou para Belo Horizonte. Aposentou-se aos 56 anos após sofrer um acidente. A partir de então, dedicou-se totalmente a pintura. Ele realizou sua primeira exposição individual aos 67 anos.
SERVIÇO Academia Mineira de Letras Lançamento do livro Lorenzato (Ubu editora) precedido de conversa entre o curador Rodrigo Moura e o artista Ricardo Homem
Data: 16 de julho, das 11h às 13h Local: Academia Mineira de Letras (Rua da Bahia, 1466, bairro de Lourdes)
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16/07 – Primeiro livro sobre o artista mineiro Amadeo Lorenzato é lançado na Academia Mineira de Letras
O evento, que acontece na sede da AML, também conta com uma conversa abordando a vida e a obra do pintor, com participação de Rodrigo Moura e Ricardo Homem