O documentário “João Arruda-Morada”, dirigido por Mário de Almeida, da Maravilha Filmes, está entre os filmes selecionados pelo Festival Internacional de Cinema Socioambiental – Planeta.Doc e terá exibição gratuita na plataforma virtual até dia 31 de dezembro de 2025 pelo endereço https://planetadoc.com/
Planeta.Doc é mais do que um festival de cinema.Trata-se de um convite à reflexão e à ação promovendo, por meio de filmes impactantes, o diálogo sobre a realidade contemporânea e o futuro da vida na Terra. A proposta aproximar estudantes e educadores de produções audiovisuais nacionais e internacionais que abordam questões urgentes do nosso tempo, como mudanças climáticas, diversidade cultural, justiça social, direitos humanos, ciência e futuro sustentável.
“Morada vai além de um making off do disco e aborda questões da vida do compositor João Arruda e da forma dele de fazer música. O filme também traz à tona a resistência contra a mineração abusiva e exploratória que ameaça a vida, a terra e os modos de existir aqui na região onde habitamos”, explica Mário de Almeida, da Maravilha Filmes.
A produção detalha a regeneração da terra por meio da agroecologia e a influência positiva da arte sobre as pessoas, em direção a uma relação mais harmoniosa com as formas de vida com as quais compartilhamos nossa existência. Do interior de Minas Gerais, o canto de João Arruda ecoa também em defesa da vida no Vale da Pedra Branca, contra a exploração predatória da mineração, somando-se às demais formas de luta no lugar.
Morada não é apenas um filme. É um gesto de apoio e de somas de forças. Ele se alinha às diversas lutas que acontecem no Vale da Pedra Branca e em tantos outros territórios onde a natureza vem sendo violada por interesses predatórios. A Aliança em Prol da APA da Pedra Branca @aliancapedrabranca é um desses exemplos vivos de resistência e cuidado com o que é comum. “Uma força que nos inspira e que o filme deseja amplificar”, destaca Almeida.
A ideia de Morada
Quanto a ideia do documentário Morada, Arruda conta que Mário de Almeida registrava alguns momentos da lida com a terra e encontros musicais desde a chegada do cantor e violeiro na cidade de Caldas, no Sul de Minas Gerais. Almeida e Arruda estreitaram os vínculos, os laços e então Levi Ramiro foi convidado para ajudar nessa produção.
“Ele é peça fundamental desse álbum, é uma pessoa que eu me inspiro muito, é uma figura muito importante, faz as minhas violas e eu tenho ele como um querido compadre, um irmão, um amigo, um mestre. Ele topou e no esquema do isolamento, ficamos em quarentena para se encontrar e caminhamos com o projeto. Em 2024 conseguimos aprovar o projeto na Lei Paulo Gustavo de Minas Gerais e obtivemos parte do recurso para a pós-produção do documentário”, comenta.
Arruda fez a mixagem e masterização e Almeida foi o responsável pelos registros de todo processo de gravação do álbum que fugiu do esquema tradicional de estúdio, ou seja, a maioria das músicas foram gravadas ao vivo e geralmente em locais abertos na roça, como na montanha, na beira de rio, no meio da mata, perto da cozinha, na frente de casa, junto com os bichos, com as plantas.
“Foi uma experiência muito linda, emocionante. Quando assisti o documentário, fiquei muito feliz com a costura que o Mário fez, as histórias que ele trouxe para contar dentro desse tema que é a morada, que é a construção da casa, que é a construção do álbum, que é a construção minha mesma, pessoal também. Foi muito emocionante e fiquei muito feliz com a contribuição valiosa do Mário, de fazer essa montagem, pegar e contar as histórias que ele contou, porque eu não vou falar aqui, porque senão vai dar spoiler”.
Por trás das lentes
De acordo com Mário de Almeida, a proposta era fazer um documentário musical que fosse além de um making off do disco, mas que trabalhasse essas questões da vida do João e da forma dele de fazer música. Dessa forma, o foco era retratar a importância da agrofloresta dentro da música de Arruda e levar para um filme. “É uma música muito focada na diversidade, nas nossas raízes e nas formas de estar no mundo, em conexão com a natureza e com as formas de vida, com as quais a gente se relaciona. Isso é o disco dele, isso é o João”, pontua.
E assim a produção foi se transformando. Começou a contar a história do João naquele lugar e o filme foi além de dialogar com as músicas, mas principalmente com as formas de inspiração que geraram essas músicas como as paisagens, as conexões do artista com as pessoas e com os animais daquele lugar e também com a luta em defesa da vida no Vale da Pedra Branca contra exploração predatória da mineração.
“A conexão que ele tem com a comunidade, como com os indígenas que moram naquela região, da aldeia Ibirimã Kiriri do Acré, e com o fazer agroflorestal dele, ou seja, uma vida de agricultor naquele lugar, a realidade de uma pessoa que veio da cidade para viver aquele ambiente de uma outra forma, para viver aquele ambiente como alguém que quis mudar de vida mesmo. Então essas são as inspirações que representam um dos objetivos do documentário”.
O documentário musical Morada foi todo filmado no Vale da Pedra Branca, em Pocinhos do Rio Verde, em Caldas, Minas Gerais, especialmente no sítio Arvoredo onde João Mora, desenvolve sua agrofloresta e mantém seu estúdio. A primeira exibição do longa-metragem ao público foi em 16/11/2024 no Barracão da Tomiko, em Caldas. Depois ocorreram exibições em outros espaços e ele também está em diversos festivais.
“Queremos engajar o filme a partir das temáticas que o álbum do João Arruda aborda que são urgentes e essenciais para o Brasil nesse momento, que é o nosso multiculturalismo, a preservação do nosso bioma, da natureza no Brasil, do ser humano e de todas as formas de vida que estão aqui. A obra do João tem essa potência e a intenção de trabalhar a cultura popular como uma forma de defesa e preservação nesse território chamado Brasil”, pontua Almeida.
O Vale da Pedra Branca – Sudeste do Brasil, sul do estado de Minas Gerais
Uma atividade vulcânica ocorrida há pelo menos 80 milhões de anos resultou em uma paisagem de exuberância inigualável, além de uma imensa riqueza mineral no solo da região. Um dos maiores campos de urânio do mundo, já explorado, sem sucesso, pela indústria nuclear na história recente do país, com a promessa frustrada da nova energia e deixando uma destruição gigantesca de mais de 100 milhões de toneladas de rejeitos e milhares de toneladas de material radioativo.
As chamadas “terras raras”, descobertas ainda na década de 90 na região, despertam maior interesse do mercado global da mineração nos dias atuais, por possuírem elementos estratégicos para indústrias de alta tecnologia, transição energética e, principalmente, para fins militares.
Com a estimativa de que a jazida localizada nessa imensa cratera vulcânica seja capaz de suprir até 20% da demanda de terras raras de todo o planeta, uma grande corrida internacional pela exploração mineral no planalto vulcânico tem início em 2025, o que pode redefinir a geopolítica da mineração nos próximos anos, tendo em vista os interesses econômicos e políticos e os impactos ambientais que estão em jogo, podendo transformar toda essa região numa Zona de Sacrifício.
No Vale da Pedra Branca, localizado nesta região, a beleza e a força da natureza há décadas resistem à exploração predatória. É desse lugar que ecoa a voz do músico João Arruda, voz poética e sensível que se soma à de outros atores e a outras formas de luta em defesa da terra e dos modos de existir que são inseparáveis do Vale.
Sobre João Arruda: Nascido em Campinas, João Arruda, além de artista é um produtor musical responsável por vários projetos no Centro Cultural Casarão como Arreuní, Casarão das Violas, Circuito Dandô, Encontro de Folias de Reis, Congadas, entre outros. Em 2020 ele mudou-se para um sítio no sul de Minas Gerais onde produz álbuns, trilhas sonoras e realiza plantios, vivências e outras alegrias agroflorestais. É conhecido por seu carisma e inquietude, além de misturar diferentes sonoridades, entrelaçar ritmos de diversas culturas, compondo em parcerias , fazendo poesia e música como forma de regenerar a Terra, e regenerar-se junto com ela.
Sobre a Maravilha Filmes: Produtora audiovisual de São Paulo fundada pelo documentarista, diretor, roteirista e produtor Mário de Almeida. É voltada para a criação de conteúdos sobre música e cultura popular focados na pluralidade das manifestações criativas e artísticas do povo, nas formas de resistência cultural existentes na sociedade e nos mais diversos fenômenos sociomusicais brasileiros, dos tradicionais aos contemporâneos. Nosso trabalho é trazer à tona, por meio do audiovisual, formas de expressão que estão fora dos meios canônicos de difusão.
Serviço:
Exibição do Documentário “Morada” com João Arruda
– Até 31/12/2025 pelo site https://planetadoc.com/
Informações: @maravilhafilmes @joaoarrudatambemg @planetadoc







