Chega a Belo Horizonte, para curta temporada na Casa Camelo, a exposição YUNZA, trabalho inédito da artista Yanaki Herrera. A mostra será aberta em 3 de setembro e prosseguirá com visitações até o dia 20, trazendo especialmente aos apreciadores da arte contemporânea uma oportunidade de reflexão sobre maternidade, coletividade, migração e resistência cultural. Informações no Instagram @yanaki_herrera e @casacemelo.
Com curadoria de Ariana Nuala, YUNZA se inspira na tradição realizada em diversas comunidades andinas e amazônicas, como ritual comunitário que celebra a fertilidade da terra e o bem viver. Reunindo 15 obras autorais de Yanaki Herrera e duas criações desenvolvidas em imersão com os coletivos Cholitas da Babilônia e o Comitê Indígena Mineiro – entre linguagens como pintura, ações e intervenções -, a mostra apresenta uma investigação poética e política que parte da memória familiar e se conecta a uma perspectiva anticolonial de retomada indígena, entrelaçando práticas ancestrais e contemporâneas. “É uma proposta que questiona narrativas hegemônicas e explora vivências frequentemente marginalizadas, propondo uma visão mais ampla e inclusiva do cuidado e das práticas comunitárias”, explica a artista.
A relação com a Yunza, ponto de partida das obras, tem origem na própria história familiar de Yanaki Herrera. “Minha conexão com essa celebração começou com meus avós, Silvia e Jorge Herrera, membros da comunidade quechua de Ocobamba, no Peru. Ambos migraram para Lima. Em Lima, meu avô Jorge foi o presidente do Clube Social de Ocobamba, um espaço para migrantes ocobambinos com o fim de promover e preservar as tradições e celebrações, assim como, fortalecer os laços comunitários. Essas reuniões eram marcadas pela resistência ao racismo e à discriminação, e tinham como destaque a Yunza”, conta a artistas.
Para Yanaki Herrera, mais do que uma festividade, a Yunza simboliza os valores andinos de reciprocidade e bem-viver (Sumaq Kawsay), celebrando a abundância e a união comunitária. “Além disso, na perspectiva desse ritual, a fertilidade, a resistência e a abundância desafiam a visão individualista e hegemônica da maternidade, propondo-a como um espaço político, comunitário e de transformação”, completa.
Essa prática, no entanto, se perdeu na família de Herrera, em função dos impactos do deslocamento e do colonialismo. “Resgatar a Yunza hoje é um ato de resistência cultural, reafirmando identidades que existem há milênios. E foi procurando as memórias da minha família, através da oralidade, que fui conhecendo um pouco mais dessas práticas que meu avô fazia”, explica.
Assim, a exposição estabelece um ponto de ligação entre a relação familiar de Herrera com a Yunza e as vivências de outros indígenas em relação às festividades que organizam no Brasil e na América-Latina. A colaboração com o Comitê Indígena Mineiro, por sua vez, conecta lutas de diferentes territórios e gerações, atravessando fronteiras e ampliando redes. “É uma troca que fortalece a visibilidade de práticas artísticas indígenas no estado e cria oportunidades para que essas narrativas ganhem espaço nas instituições culturais mineiras”, sintetiza Herrera.
Oficinas e bate-papos
Durante o período da exposição, serão realizadas três atividades públicas gratuitas, incluindo duas oficinas — uma destinada a crianças e outra voltada para adultos, com acessibilidade para a comunidade surda — e um bate-papo com a artista e a curadora. “A ideia é promover espaços colaborativos que conversem com o público e ressignifiquem a coletividade no contexto de Belo Horizonte”, diz Herrera. Temas como ancestralidade, ecologia, arte, maternidade e migração permearão as atividades.
A programação completa de oficinas e bate-papos, com datas e horários, será divulgada nas páginas da Casa Camelo (@casacemelo) e da artista Yanaki Herrera (@yanaki_herrera). As inscrições serão realizadas presencialmente, com vagas limitadas, a partir de 30 minutos antes do início das atividades.
Sobre a artista – Yanaki Herrera é mãe e artista visual, graduanda em Artes Visuais pela UFMG, de origem indígena quechua, nascida em Cusco, criada em Lima e imigrante no Brasil. Sua pesquisa articula maternidades e infâncias a partir da produção de imagens que confrontam a visão patriarcal da maternidade. Por meio da pintura e de processos sobre latão, constrói fabulações visuais que afirmam a potência das subjetividades maternas como gesto de resistência anticolonial.
SERVIÇO:
Exposição YUNZA – Yanaki Herrera
Data: 4 a 20 de setembro
Abertura: 3 de setembro, 18h-22h
Local: Casa Camelo (Rua Santo Agostinho, 365, Sagrada Família).
Horário de visitação: terça a sábado, das 14h às 20h.
Mais informações:
Instagram: @casacamelo
https://www.instagram.com/casacamelo
Email: casacamelo.arte@gmail.com