Chamou atenção a obra Pulmão de mina, 2023 – Ferro, prata, cobre, anil, corda e ervas da artista Luana Vitra, que é representada pela Mitre Galeria (BH), na abertura da Bienal SP. A programação aberta ao público, começa hoje (06/09).
A transmissão de histórias orais é uma das fontes da pesquisa de Luana Vitra. De origem mineira, cresceu ouvindo relatos de parentes que envolvem desde celebrações, saberes e tecnologias afro-diaspóricas, aos traumas do passado escravista da região de Ouro Preto, onde vive sua família. Assunto constante são as histórias que envolvem o legado de séculos de economias extrativistas que ainda promovem a degradação dos ecossistemas locais. Desses relatos, Vitra se recorda de ouvir sobre pessoas escravizadas que costumavam levar canários para o trabalho em minas de ouro. Pássaro de canto incessante e metabolismo acelerado, era utilizado como sentinela. Seus pulmões reagiam em instantes à presença de gases tóxicos emanados pela extração mineral, e seu silêncio era o alerta para que os mineiros abrissem caminhos para escapar daquelas galerias, evitando os perigos de uma intoxicação letal.
A sobrevivência daquelas pessoas significava a morte das aves, evidenciando como o regime escravagista não devastou apenas vidas humanas, mas estendeu seu terror sobre outras espécies.
A narrativa acima é o ponto de partida da obra de Luana Vitra para a 35ª Bienal de São Paulo. A instalação tem como elemento principal uma série de flechas-patuás preparadas para o desbloqueio de caminhos. Feitas de ferro, material paradigmático e de uso recorrente em seus trabalhos, elas atuam como condutores, apontando para lugares de prosperidade onde a “possibilidade prevalece”. Ao centro da instalação, nota-se que algumas delas estão agrupadas e posicionadas diagonalmente entre si. Para Vitra, essa composição cria um caminho que espacializa os significados e as possibilidades que cada agrupamento carrega. Somam-se à composição do trabalho, cuias de cobre, pássaros banhados em prata e cobre, metais de alto caráter condutivo e pó de anil, substância frequentemente utilizada para limpeza energética.
por thiago de paula souza
Sobre Luana
Luana Vitra é artista plástica formada pela Escola Guignard (UEMG), dançarina e performer. Cresceu em Contagem, cidade industrial que fez seu corpo experimentar o ferro e a fuligem. Gestada entre a marcenaria (pai) e a palavra (mãe), se movimenta como reza em busca da sobrevivência e da cura das paisagens que habita. Entende o próprio corpo como armadilha, e sua ação como micropolítica na lida com a materialidade e espacialidade que seu trabalho evoca, confronta e confunde.
Atualmente está especialmente interessada na paciência e na violência das pedras. Com o foco principal de interesse no reino mineral, ela tem realizado um processo de subjetivação de si a partir das características de alguns minerais, o que a leva a um desejo de transição de reino, onde aos poucos vai permitindo ao seu corpo assumir características minerais.
Para mais informações sobre a Bienal, acesse https://35.bienal.org.br/
Sobre a Mitre
Há sete anos, a Mitre atua no mercado de arte brasileiro e internacional. Fundada em 2015 pelos sócios Alexandre Romanini, Altivo Duarte e Rodrigo Mitre, com o nome Periscópio, a galeria ganha novo nome com a intenção de marcar um período de consolidação e maturidade, e de abrir caminhos para continuar articulando proposições inventivas que ativam o cenário das artes contemporâneas.
Serviço
Mitre Galeria
Rua Tenente Brito Melo, 1217, Barro Preto
Belo Horizonte/MG