segunda-feira, julho 7, 2025
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Conceição Evaristo no Letra em Cena Especial

Como ler Conceição Evaristo

“O objetivo da minha literatura é ser literatura e construir o texto-vida”, diz Conceição Evaristo entrevistada do Letra em Cena Especial

 

A segunda sessão do Letra em Cena Especial trará a escritora Conceição Evaristo para o palco do Teatro do Centro Cultural Unimed-BH Minas. No dia 1º de agosto, às 19h, o curador do programa literário, o jornalista José Eduardo Gonçalves conversará com a escritora belo-horizontina sobre seu processo de escrita. “Em Conceição, o fazer literário está impregnado de sua condição de mulher negra, militante e feminista”, observa o curador. A leitura de texto será feita pela atriz e doutora em literaturas de língua portuguesa pela PUC-Minas Soraya Martins. Os ingressos, gratuitos, estão esgotados.

 

Conceição Evaristo diz que o que a atrai na literatura é que é uma arte que permite. “O fato da literatura ser um discurso do poder dizer, do poder ser. Ele permite a veiculação de sonhos, de frustrações de esperança, de revolta e possibilita imaginar e construir outro mundo. A literatura permite narrar os acontecimentos do jeito que eles são, mas narrar também a vida da maneira como gostaríamos que ela fosse”, diz a escritora. José Eduardo Gonçalves afirma que a Conceição é um dos maiores nomes da literatura. “Primeiro, pela diversidade de gêneros que ela domina com maestria – contos, poesia, romance e ensaios. Segundo, pela qualidade indiscutível que ela imprime aos seus trabalhos, em termos de linguagem, originalidade e densidade de seus textos. E terceiro, pela força crítica de sua literatura, comprometida especialmente com as questões da ancestralidade afro-descendente e com a defesa contundente do protagonismo das mulheres negras. Além disso, como pensadora e intelectual, Conceição tem tido um papel fundamental ao trazer para a arena pública o debate sobre a desigualdade social, a discriminação racial e a violência estrutural que se abate sobre os chamados grupos sociais minoritários”, atesta.

 

Pode-se dizer que Conceição criou uma forma de escrita que é sua identidade, mas que, por meio dela, a autora celebra histórias. “A insistência, o exercício de querer tomar a vida nas mãos pela escrita que surge marcada primeiramente por vidas, por vivências, por existências grafadas no tempo, que pode ser o tempo de hoje , o tempo de ontem, ou o tempo da lembrança”, diz Conceição. A escritora completa afirmando que “mais que aglutinar as palavras, escrever e viver é podermos pensar a escrevivência como um texto-vida, um escrito da vivência. Dessa forma, a escrevivência pode ser captada por meio de uma música, de uma dança, de um texto histórico ou em um escrito que há o elogio da memória”, explica. A escritora salienta que a escrevivência “está relacionada e tem como imagem fundante corpos silenciados que não puderam dizer aquilo que queriam, mas que ao longo do tempo foram adquirindo a potência de corpos falantes e que se realizam por meio da escrita”. O curador aponta que o termo cunhado por Conceição, escrevivência, traz o trabalho da memória. “Escrevivência, que é como ela define a escrita que vem da vivência cotidiana, do fazer do povo negro, em uma mescla de memórias pessoais e coletivas. É fascinante como ela trabalha a questão da memória como fonte de acesso ao conhecimento”, observa José Eduardo.

 

Conceição traduz a vivência das mulheres negras para a linguagem literária e ela afirma que passa por alguns caminhos para isso. “Ora passa pela minha própria vivência, que eu conheço por experiência, e ora passa por uma inscrição de uma vivência coletiva de uma memória histórica que se faz presente em mim”, diz Conceição. A autora diz que não dá voz às mulheres negras, mas sim “é uma mulher negra falando. Então, eu sou uma mulher negra que posso simbolizar outras mulheres iguais a mim e que me simbolizam, assim como eu à elas”, diz. José Eduardo observa que a autora é a continuação de uma rica trajetória. “Ela vem de uma linhagem de escritoras que tem expoentes como Maria Firmina e Carolina de Jesus, e que encontra eco, hoje, em autoras como Ana Maria Gonçalves, mas, sem dúvida, o papel de liderança de Conceição Evaristo na  frente de lutas pelo reconhecimento do papel das mulheres negras é inquestionável”, atesta.

A autora observa que algumas vezes os textos de autoria negra são analisados como panfletários. Porém ela observa que é uma análise rasa. “Normalmente considera esses textos panfletários quem não observa todo o processo de criação dos nossos textos. Eles têm um projeto de criação que muitas vezes passa despercebido. Só leem o conteúdo do texto ou não percebendo o exercício de criação e estética que tem atrás do escrito”, explica. A escritora observa que sempre que uma parte da sociedade que é discriminada escreve seu texto é rotulado. “Todos esses discursos literários, que são criados a partir de discursos de identidades que são repudiadas, quando há uma reivindicação, uma afirmação dessas identidades, esses discursos são considerados panfletários. Ora, se na criação de um texto a autoria entende que ele é um lugar de denunciar a morte ou o direito à vida, é um texto literário sim”, completa.

 

Conceição diz não saber se as histórias que conta cumprem alguma função. “Se as histórias contadas por mim, que não são só minhas, são de várias mulheres negras, se atravessam a indiferença e o desconhecimento de alguns e podem convocar a humanidade de muitos, eu acho que essas histórias já chegaram em um bom lugar, já estão em um ótimo lugar”, conclui a autora.

 

Serviço

Letra em Cena. Como ler Conceição Evaristo

Data:1ª agosto de 2023, terça-feira
Horário: 19h
Local: Teatro do Centro Cultural Unimed-BH Minas
Classificação: livre

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Centro Cultural Unimed-BH Minas
Rua da Bahia, 2.244 – Lourdes. Belo Horizonte – MG

Leo Junior
Leo Juniorhttps://viralizabh.com.br
Bacharel em Publicidade e Propaganda pelo Centro Universitário UNA, graduado em Marketing pela Unopar e pós graduado em Marketing e Negócios Locais e com MBA em Marketing Estratégico Digital, é um apaixonado por futebol e comunicação além de ser Jornalista certificado pelo Ministério do Trabalho.
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