Itália, 1957. Federico Fellini, já um cineasta internacionalmente reconhecido, lança “Noites de Cabíria”, que viria a ser um de seus maiores sucessos. O filme dá à sua atriz principal, Giulietta Masina, o Prêmio de Interpretação Feminina em Cannes, por unanimidade, e torna a personagem um ícone do cinema. Quase 70 anos depois, a jovem ingênua e sonhadora sai das telas para ocupar um dos maiores palcos do Brasil. Criado pelo Grupo Quatroloscinco – Teatro do Comum, o espetáculo “Luz e Neblina”, livremente inspirado em “Noites de Cabíria”, terá apresentação única no Grande Teatro Cemig Palácio das Artes, em 3/7 (quarta-feira), às 20h, fechando a programação da “Retrospectiva Fellini”. A montagem cine-teatral inédita tem direção de Ricardo Alves Jr., dramaturgia de Germano Melo e atuação de Rejane Faria, Assis Benevenuto, Ítalo Laureano e Marcos Coletta. A entrada é gratuita, com retirada de ingressos a partir de 12h (meio-dia) do dia do evento, exclusivamente na bilheteria do Palácio das Artes. Será disponibilizado 1 par de ingressos por pessoa, sem lugar marcado. O universo cinematográfico onírico de Federico Fellini ainda pode ser visto no Cine Humberto Mauro, até 30/7 (domingo), com entrada gratuita.
O projeto “Luz e Neblina” se inspira na fase neorrealista do diretor italiano – quando ele retratava a vida da classe trabalhadora no pós-guerra com profunda sensibilidade e humanismo – para tocar em uma questão contemporânea: como, em um mundo hiperconectado, saturado de imagens supérfluas e dispersivas, o fazer cênico pode ser traduzido no resgate poético da condição humana? A peça é a segunda parceria do diretor Ricardo Alves Jr. com o Grupo Quatroloscinco, união esta que se caracteriza pela investigação da mistura entre as linguagens do teatro e do cinema. O grupo de teatro belo-horizontino mantém, há 17 anos, trabalho continuado de pesquisa e prática artística pautado na criação coletiva e na dramaturgia autoral contemporânea, buscando uma cena focada na atuação como presença e nas formas de relação com o espectador.
O Ministério da Cultura, o Governo de Minas Gerais e a Secretaria de Estado de Cultura e Turismo de Minas Gerais, por meio da Fundação Clóvis Salgado, apresentam o espetáculo artístico “Luz e Neblina”, integrado à “Retrospectiva Fellini”. As atividades da Fundação Clóvis Salgado têm Patrocínio Master da Cemig e do Instituto Cultural Vale, Patrocínio Prime do Instituto Unimed-BH e da ArcelorMittal e correalização da APPA – Cultura e Patrimônio. Governo Federal, Brasil. União e Reconstrução.
Reunião de talentos – Será a primeira vez do Grupo Quatroloscinco no Grande Teatro Cemig Palácio das Artes, e a segunda direção de Ricardo Alves Jr. neste palco, coincidentemente após 10 anos da montagem de “Sarabanda”, também no contexto de homenagem a um dos grandes cineastas mundiais – Ingmar Bergman. Vitor Miranda, Gerente de Cinema da Fundação Clóvis Salgado e curador da mostra, explica que “Luz e Neblina” trará uma experimentação poucas vezes vista no Grande Teatro Cemig Palácio das Artes. “O espetáculo se passa em meio à montagem de uma peça teatral e à gravação de um filme não-revelados para o público, ambos tendo a própria Cabíria como protagonista. Ou seja, existe uma questão muito forte da metalinguagem, mas, mais que isso, uma hibridização midiática. Haverá momentos em que uma parte da ação se dará no palco, e o público vai poder ver o que acontece dentro de um camarim, por meio das projeções, inclusive com um trabalho de edição ao vivo. Então a proposta é realmente trabalhar toda a espacialidade do teatro através, também, da câmera”, enfatiza.
Além de uma celebração do trabalho de Fellini e da intersecção entre cinema e teatro, a montagem é também uma ode ao trabalho de atriz, especialmente representado por Rejane Faria, premiada protagonista de “Marte Um” (2022), de Gabriel Martins. A intérprete mineira vem se destacando na cena contemporânea, construindo uma carreira profícua no palco, no cinema e nas plataformas de streaming. Agora, enfrenta o desafio específico de dar vida a uma personagem icônica da cinematografia mundial, em um contexto totalmente novo. “Acho que o que aproxima a Cabíria de hoje da Cabíria do original é a busca por um sentimento autêntico num mundo que é, muitas vezes, extremamente cruel. A Cabíria do filme tem esperança no amor. A da peça busca a bondade. O que as diferencia é que a Cabíria magistral de Giulietta Masina era uma personagem bastante instintiva, e por isso mesmo muito comovente e universal, quase uma criança grande nas suas ações e reações. Esta Cabíria que estou construindo é uma personagem adulta, uma artista com uma série de angústias e de reflexões sobre o mundo que a cerca. Sem perder a ternura, e também um pouco a ingenuidade, ela é uma personagem mais existencialista, e por isto mesmo mais pronta a provocar uma ruptura diante da opressão que a vitimiza”, reflete a atriz.
Esta ruptura, tanto na trama quanto na própria estrutura do espetáculo, já está presente na escrita do ator, roteirista e dramaturgo Germano Melo. O autor apresenta um mosaico dinâmico, investido de vozes narradoras e questionadoras que são desdobramentos de uma subjetividade alternadamente dramática e épica. “A dramaturgia é livremente inspirada no filme. Sigo os eixos principais do enredo para criar uma outra história e experimentar certos recursos de linguagem. Acredito que a grande potência da dramaturgia no teatro é poder criar um universo próprio, que se afasta das regras de verossimilhança cinematográfica, do realismo. Em ‘Luz e Neblina’, tanto os diálogos quanto os monólogos podem ser entendidos em seu sentido rítmico ou musical. As personagens combinam tons que vão do épico ao dramático. Ao mesmo tempo que contam uma estória, provocam reflexões sobre determinadas crises que atravessamos como sociedade, o que não deixa de ser um tema muito presente nas obras de Fellini”, explica.
Na transposição desta história atemporal para o palco está o premiado diretor Ricardo Alves Jr., que vem cada vez mais se aprofundando na criação de obras híbridas – entre o cinema e o teatro –, caracterizadas pela construção autoral em atmosferas que se equilibram entre a ousadia estética e a contundência social e política. “Penso que criar uma obra inspirada no universo de Fellini não seria possível sem assumir um tom categoricamente hiper-teatral, ou seja, utilizando diversos recursos de encenação que remetem ao circo, à ópera e ao teatro popular. Mesclamos estes elementos à linguagem cinematográfica, que traz em si o intimismo, o minimalismo, o jogo de luz e sombra. A encenação acaba sendo uma grande ode ao cinema e ao teatro, como linguagens que sempre remetem ao onírico, muito presente também na vasta obra do diretor. Por ser uma livre adaptação, a peça se comunica tanto com o público habituado com o filme original, como com quem não conhece a história. Nossa dramaturgia é referente, mas também independente. É como se trouxéssemos o enredo de Cabíria para um universo paralelo, e isto é muito instigante”, ressalta o diretor.
FICHA TÉCNICA DO ESPETÁCULO:
Atuação: Assis Benevenuto, Ítalo Laureano, Marcos Coletta e Rejane Faria
Dramaturgia: Germano Melo
Direção: Ricardo Alves Jr.
Produção: Maria Mourão
Iluminação: Marina Arthuzzi
Direção de Arte: Luiz Dias
Assistência de Arte: Caroline Manso
Assistência de Produção: Jean Gorziza
Edição ao Vivo: Janaína Patrocínio
Câmeras: Daniella Fonseca, Diego d’Avila e Eduardo Falcão
Trilha Sonora ao Vivo: João Myrrha
Operação de Som: Daniel Nunes
Realização: Grupo Quatroloscinco, Entrefilmes e Palácio das Artes
Duração: 70 minutos
Data: 3 de julho (quarta-feira)
Horário: 20h
Local: Grande Teatro Cemig Palácio das Artes
(Av. Afonso Pena, 1537, Centro, Belo Horizonte)
Classificação indicativa: 14 anos
Entrada gratuita, com retirada de ingressos a partir de 12h (meio-dia) do dia do evento, exclusivamente na bilheteria do Palácio das Artes; será disponibilizado 1 par de ingressos por pessoa, sem lugar marcado
Informações para o público: (31) 3236-7400
FUNDAÇÃO CLÓVIS SALGADO – Com a missão de fomentar a criação, formação, produção e difusão da arte e da cultura no Estado, a Fundação Clóvis Salgado (FCS) é vinculada à Secretaria de Estado de Cultura e Turismo de Minas Gerais (Secult). Artes visuais, cinema, dança, música erudita e popular, ópera e teatro, constituem alguns dos campos onde se desenvolvem as inúmeras atividades oferecidas aos visitantes do Palácio das Artes, CâmeraSete – Casa da Fotografia de Minas Gerais – e Serraria Souza Pinto, espaços geridos pela FCS. A instituição é responsável também pela gestão dos corpos artísticos – Cia. de Dança Palácio das Artes, Coral Lírico de Minas Gerais e Orquestra Sinfônica de Minas Gerais –, do Cine Humberto Mauro, das galerias de arte e do Centro de Formação Artística e Tecnológica (Cefart). A Fundação Clóvis Salgado também é responsável pela gestão do Circuito Liberdade. Em 2020, quando celebrou 50 anos, a FCS ampliou sua atuação em plataformas virtuais, disponibilizando sua programação para público amplo e variado. O conjunto dessas atividades fortalece seu caráter público, sendo um espaço de todos e para todos.