O SESI Minas apresenta, pela primeira vez na região Sudeste, a exposição “Ocupação” do artista paraense Petchó Silveira, com a curadoria de Luisa Borges. A mostra, que poderá ser visitada gratuitamente de 11 de julho a 31 de agosto, ocupa a galeria do SESI com 30 obras e propõe um mergulho nas realidades das periferias brasileiras a partir da perspectiva de um artista negro da região Norte do país. A abertura acontece na sexta-feira, dia 11 de julho, a partir das 19h, com presença do artista e uma pintura ao vivo. A visitação ocorre de segunda a sexta-feira, das 8h às 17h, exceto em feriados.
“Ocupação” trata de forma sensível de temas como racismo, desigualdade social, violência cotidiana e da ausência de representatividade negra e periférica no circuito artístico tradicional. Ao utilizar o papelão como suporte, Petchó estabelece um paralelo direto com a realidade das pessoas em situação de rua, especialmente pessoas negras, observadas em sua cidade natal, Belém do Pará, e em tantas outras do Brasil. “O papelão, que para eles é o abrigo, a casa, o lençol – passa também por essa invisibilidade. Usar o papelão para falar sobre isso é dar visibilidade para essas pessoas”, explica o artista.
A curadora Luisa Borges reforça que a exposição permite o contato com realidades pouco representadas e amplia o olhar sobre o Brasil. “A exposição traz para Belo Horizonte a visão de um artista de Belém do Pará, que expõe, através de suas pinturas, um entendimento educativo sobre realidades brasileiras – especificamente da região Norte do país, possibilitando aos visitantes locais um alcance único de diferentes regiões do país. Através de suas obras, Petchó promove uma tomada de consciência frente a corpos e expressões de pessoas negras, os detalhes de suas personalidades, trajetórias e histórias de vida, assim como suas dores, belezas e cicatrizes psicológicas em contexto com uma sociedade de desigualdade, que é também reproduzida no meio da arte” , afirma Luisa.
Traços do Norte e realidades periféricas
Cores vibrantes e traços intensos são marcas da produção de Petchó, que imprime nas telas elementos da cultura popular e do folclore do Norte do país, além de tatuagens e expressões que remetem à vida na periferia. “Essas cores fortes é o que vejo muito na minha cidade. Temos muita influência caribenha, isso está impregnado no meu inconsciente. As tatuagens vêm como uma memória afetiva… geralmente de pessoas que moram na periferia, e às vezes até vieram de presídios, de uma vida marginalizada.”
A exposição é majoritariamente composta por pinturas em papelão, cujas dimensões variam entre 11×11 cm e 170×100 cm. Além das obras, o público poderá conhecer mais sobre o processo criativo do artista por meio de um display com materiais de trabalho, sketchbooks e registros técnicos. O espaço também contará com QR Codes espalhados pela galeria que dão acesso a textos explicativos e um site interativo com catálogo e informações sobre a venda das obras.
Entre as 30 obras expostas, uma em especial carrega um significado profundo para o artista. “Uma das obras que considero mais emblemática é a da mulher preta sentada em uma cadeira com um livro na mão, porque eu acho que o livro é educação e faz com que a gente consiga sair desse lugar que nos foi colocado”, diz. É nessa ideia que se ancora o título da exposição. “Por isso a exposição se chama ‘Ocupação’, porque com a educação conseguimos alcançar e ocupar esses espaços antes proibidos.”
A mostra também busca refletir sobre o papel das instituições culturais e dos espaços expositivos enquanto lugares historicamente fechados à produção artística de pessoas negras e periféricas. Com “Ocupação”, Petchó amplia essas fronteiras e propõe um olhar mais diverso e sensível às realidades invisibilizadas do país. “O papelão vira arte e não volta para a rua, fica em museus, na casa de pessoas, e dá dignidade para esse material que seria jogado fora, dando também dignidade para essas pessoas que foram esquecidas.”
Sobre o artista
Petchó Silveira é um artista de Belém do Pará, nascido e criado na periferia da cidade. Iniciou sua trajetória artística ainda jovem, com apoio da Fundação Curro Velho, espaço cultural do estado do Pará. Seu trabalho tem como base a observação do cotidiano, especialmente das realidades vividas por pessoas negras em situação de vulnerabilidade. Participou de diversas mostras coletivas e individuais na região Norte, com destaque para exposições na Assembleia Paraense e no Centro Cultural da Justiça Eleitoral do Pará. Petchó também ilustrou um livro da UnB sobre mulheres negras cotistas e integrou o Festival Literário e Artístico de Canaã dos Carajás (FLACC). A exposição “Ocupação”, no SESI Minas, marca sua estreia na região Sudeste.
Sobre a curadora
Luisa Borges é fotógrafa, musicista e especialista em sustentabilidade. Com formação em fotografia e fotofilmes pelo Instituto Moreira Salles (IMS Paulista), atuou em festivais literários e museus, desenvolvendo um olhar apurado para projetos culturais. “Ocupação”, de Petchó Silveira, é sua estreia como curadora, em uma montagem que une compromisso social, sensibilidade estética e reflexão crítica sobre os espaços que a arte pode – e deve – ocupar.
Serviço
Exposição “Ocupação”, de Petchó Silveira
Curadoria: Luisa Borges
Local: Galeria do SESI Minas (Belo Horizonte)
Período: 11 de julho a 31 de agosto
Abertura: 11 de julho, a partir das 19h, com presença do artista
Visitação: segunda a sexta-feira, das 8h às 17h (exceto feriados)
Entrada gratuita